Segunda-feira, 10 de junho de 2024
Por Redação O Sul | 31 de janeiro de 2022
O ex-juiz e pré-candidato à Presidência da República Sérgio Moro (Podemos) voltou a se defender das suspeitas envolvendo seu contrato de trabalho com a consultoria americana Alvarez & Marsal, responsável por processos de recuperação judicial de empresas envolvidas em condenações da Lava-Jato, incluindo a Odebrecht.
O presidenciável, que aposta no combate à corrupção como uma de suas principais bandeiras, negou ter relação ilícita com a empreiteira e atribuiu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu futuro adversário nas urnas, a concessão de benefícios indevidos à companhia. “Quem fala que eu prestei serviço para a Odebrecht mente. Quem prestou serviço para a Odebrecht foi o Lula”, afirmou.
Moro disse estar sofrendo perseguição e acusou a corte de abuso de poder. O tribunal acatou demandas do subprocurador-geral da República Lucas Furtado e solicitou acesso aos valores envolvidos no encerramento da prestação de serviços do ex-juiz à empresa, bem como a seu salário e forma de atuação.
Nessa segunda (31), o subprocurador Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público junto ao TCU, solicitou o arquivamento do processo que analisa a relação entre o ex-juiz da Lava-Jato e a Alvarez & Marsal, que atuava da empreiteira Odebrecht.
O pedido foi enviado ao ministro Bruno Dantas, do TCU, depois de Moro apresentar publicamente o salário que recebeu na empresa. As conclusões e elementos processuais agora devem ser encaminhados à Receita Federal. Bruno Dantas ainda deve se manifestar sobre o pedido.
Em live (transmissão ao vivo) na última sexta (28), o pré-candidato disse que recebeu, ao todo, R$ 3,65 milhões da consultoria. O contrato vigorou por pouco menos de um ano e foi encerrado em outubro de 2021. O contrato foi rompido antes do previsto, porque Moro queria se tornar pré-candidato à Presidência.
Moro argumentou que a consultoria foi escolhida pelo juiz da recuperação judicial para cuidar do processo, e não diretamente pela empreiteira. “Existe, sim, uma perseguição, porque o TCU não tem nenhuma competência para realizar esse tipo de trabalho, não tem atribuição para investigar a relação privada. (…) O que existe aqui é abuso de poder”, disse o presidenciável.
O ex-juiz fez críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PL), do qual foi ministro da Justiça e Segurança Pública até abril de 2020. Ele afirmou que enxerga uma “captura” do Orçamento em prol de interesses específicos no Congresso, comprometendo a capacidade de investimento da União para favorecer a concessão de emendas parlamentares.
Moro criticou o uso dos recursos federais para a compra de tratores por parte dos parlamentares, o chamado “tratoraço”, parte do esquema revelado pelo Estadão, em maio, na série de reportagens sobre o orçamento secreto.
Ainda sobre investimentos, Moro afirmou ser “absolutamente a favor das privatizações” e defendeu o modelo como uma das ferramentas para alcançar a redução das desigualdades sociais e a “erradicação da pobreza”, uma de suas promessas de campanha.
Direcionando críticas a adversários políticos, o ex-juiz disse achar lamentável “explorar a pobreza para fins eleitorais”. Ele defendeu a criação de uma força-tarefa no Executivo para tratar desse tema. “Não quero colocar isso em um ministério, não quero ter de nomear um político que pode explorar aquilo de maneira político-partidária. Isso é lamentável”, disse Moro.
O ex-juiz também defendeu sua atuação no âmbito da Operação Lava-Jato. Ele disse que era seu “dever” abrir o grampo de gravação entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. Moro ainda lamentou que a pauta anticorrupção tenha se enfraquecido. “Hoje, não tem ninguém sendo investigado, ninguém sendo preso. Podem até discordar de prisões, mas é estranho que ninguém vá preso por corrupção no Brasil”, afirmou.