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Tito Guarniere Trump

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“Nosso país alcançou um milagre médico. Entregamos uma vacina segura e eficaz em apenas nove meses", disse Trump. (Foto: Reprodução)

O mundo fica melhor sem Donald Trump. Vamos ter de aturá-lo ainda por algum tempo, mas a ópera bufa está no fim.

Atrás do personagem e da autossuficiência arrogante, da ignorância tomada como virtude, do desprezo pelas normas mais comezinhas de convívio humano, da compulsão pela mentira, do cabotinismo e da fanfarronice como métodos, está – e esteve o tempo todo – um homem vulgar e um governante obtuso. A sua saída da Casa Branca será pela porta dos fundos, mergulhado na choradeira patética da derrota.

Trump é mestre na arte de atiçar sentimentos menores, de atrair ressentidos para o seu discurso, de apontar o dedo para os “inimigos do povo” e de atribuir e transferir culpas – a empreitada fácil de viralizar a amargura das massas. É uma marca registrada do populismo.

Mas nem sempre os astros se alinham a favor de egos superlativos, e de quem se tem na conta de invencível. Oito meses atrás, antes da pandemia, não havia no horizonte político da América nenhum nome que pudesse fazer sombra a Trump – o fenômeno político (quase disse o mito) que, do nada, enfrentando o establishment e contra todas as projeções, se elegeu presidente do país mais poderoso do mundo.

Veio a pandemia e o seu rastro trágico de dor e luto, na América e no mundo. O acaso, o imponderável, leis fundamentais do destino dos homens, embaralhou as cartas da sucessão. Trump, se comportando como Trump, achou que a doença era passageira e menosprezou a contingência.

Quando acordou o estrago estava feito, milhões de infectados, milhares de mortos. Em estado febril, da mesma espécie daquele que o faz insistir que ganhou a eleição de lavada, tentou vender aos americanos a ideia de que o governo havia sido eficiente no combate ao mal. Era desmentido todos os dias pela divulgação dos números funéreos de novos contágios e óbitos.

Trump poderia alinhar algumas conquistas do seu governo. Apesar da pandemia, a economia estava em expansão, com a curva do desemprego em declínio. Foi, além dos eleitores fiéis do trumpismo, o fator mais relevante para o seu respeitável desempenho eleitoral, apesar da derrota.

Poderia também ter exaltado que, durante o seu período de governo, os EUA não entraram em nenhuma aventura militar. Ao contrário: desenvolveu esforços reais para que os EUA se retirassem do atoleiro do Afeganistão. Mas não lhe cai bem a roupagem de pacificador.

É caso comum, o de Trump, de empresário que arrisca a sorte na política. O problema é que o espírito animal, o instinto predatório, pode ser (e nem sempre é) uma vantagem no ambiente tóxico da concorrência. Mas os métodos da política não são os mesmos do mercado.

Na política, trata-se de aglutinar as energias e as vontades da nação, conciliar interesses em vários espaços de atuação, ter na conta as diferentes experiências históricas. Nas democracias o líder não fala nem governa sozinho – ele deve estar aberto e sensível aos clamores dos concidadãos, aos postulados da lei e das instituições, às advertências da mídia e das vozes discordantes.

Na política ninguém ganha na pose e no grito. Trump nunca compreendeu e nem quis compreender essa verdade elementar.

 

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