Ao desembarcar no aeroporto de Manila, nas Filipinas, enquanto era cumprimentado por religiosos e autoridades, um homem vestido como padre aproximou-se dele e o feriu, com faca, na jugular. Era um pintor boliviano que sofria de problemas mentais — as pessoas achavam que ele tinha na mão um crucifixo, e não uma arma.
Pouco mais de 10 anos depois, em 13 de maio de 1981, foi a vez de João Paulo II (1920-2005).
Militante de um grupo acusado de terrorismo, um atirador turco alvejou o papa na barriga, em plena Praça São Pedro, no Vaticano.
Instantes antes do início da Missa do Galo — tradicional celebração de Natal — de 2009, uma jovem suíço-italiana de 25 anos, com histórico de distúrbios mentais, avançou sobre papa Bento XVI e o derrubou.
A segurança de um papa é um tema delicado. Afinal, apesar de ser chefe de Estado, o sumo pontífice é o líder religioso do catolicismo.
Desta forma, estar em contato com o povo é um requerimento do cargo.
Não é à toa que foram adaptados veículos — como os papamóveis blindados, inaugurados por João Paulo 2º após seu atentado — para que o sumo pontífice possa trafegar com segurança em meio a multidões.
“Por protocolo diplomático, o papa deve ter segurança de um chefe de Estado, ou seja, de mais alto nível”, explica à BBC News Brasil o vaticanista italiano Andrea Gagliarducci.
Historicamente, a Guarda Suíça cuida da segurança pessoal do papa desde 1506. Atualmente, integram ela cinco oficiais, 26 sargentos e cabos e 78 soldados. Com suas inconfundíveis vestes coloridas — provavelmente os militares mais fotografados do mundo —, estão presentes em todas as aparições públicas do papa.
Os soldados são contratados por um período de dois anos e precisam ser celibatários. Ganham 1,2 mil euros (cerca de R$ 7,6 mil) por mês e moram dentro do Vaticano — onde há uma caserna.
Já a Gendarmeria, conforme informações institucionais do Vaticano, é responsável pela “ordem pública, segurança e polícia judiciária”. A corporação foi criada em 1816, pelo papa Pio VII (1742-1823) — e originalmente se chamava Corpo Pontifício Carabinieri, passando por várias reorganizações desde então. Uma delas, inclusive, em setembro de 1970, dois meses do atentado de Paulo VI.
Essa reformulação foi, sem dúvida, a mais importante. Até então, a Gendarmeria era militarizada. O papa decidiu transformá-la em força civil, mantendo apenas a Guarda Suíça como força militar do Vaticano.
Atualmente, a Gendarmeria tem cerca de 130 agentes. Sua nomenclatura atual é recente, datando de 2002.
Depois dos atentados
Mas se essas instituições já existiam, atentados a papas acendem alertas para revisões de normas e aumento nos cuidados. Os papamóveis, por exemplo, passaram a ser blindados depois que João Paulo II foi alvejado.
Gagliarducci relata que também houve uma evolução da Gendarmeria, “que se profissionalizou e se tornou também um centro de inteligência, incorporando alguns dos protocolos nacionais e se tornando hipertrófica no controle do Vaticano”.
Até o ano 2000, o acesso à Praça São Pedro e à basílica era muito simples e rápido. A segurança foi reforçada para as comemorações do Grande Jubileu, naquele ano.
Papamóveis
Foi um Itala 20/30 o primeiro automóvel a pertencer a um papa. O carro foi doado a Pio 10 (1835-1914), em 1909, pelo arcebispo de Nova York. Mas ele nunca o utilizou. Dizia não gostar da ideia de carros motorizados. Também não há registros de que seu sucessor, Bento 15 (1854-1922), tenha se aventurado a bordo da máquina.
A era dos papas motorizados foi inaugurada apenas por Pio 11 (1857-1939). Da Associação das Mulheres Católicas da Arquidiocese de Milão ele ganhou um Bianchi Tipo 15 em 1925.
Logo, fabricantes começaram a presentear o Vaticano com novos modelos — afinal, era marketing fácil as notícias publicadas com o sumo pontífice a bordo desses veículos.
Muitos consideram o primeiro veículo papal de fato o Mercedes Nürburg 460 que Pio 11 passou a utilizar no início dos anos 1930. Era adaptado e tinha um confortável trono no lugar do banco de trás. Contudo, eram tempos em que um papa mal saía do Vaticano.
Tudo iria mudar a partir de Paulo VI, o religioso que inaugurou a era dos papas viajantes. Se precisava visitar outros povos, não lhe parecia adequado ficar dentro de um automóvel. Então ele começou, aos poucos, a abolir o uso de sedãs fechados. E aparecia instalado na parte traseira de camionetas e jipes, de modo que pudesse acenar aos fiéis.
Em 1976, passou a usar também um Toyota Land Cruiser para circular em meio ao povo na Praça São Pedro.
O papamóvel começava a substituir uma antiga tradição católica: a sedia gestatoria, o trono portátil utilizado para transportar um papa.