Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 11 de junho de 2020
Enquanto o Brasil enfrenta crescimento exponencial de infecções e mortes causadas pela Covid-19, diversas cidades flexibilizaram o isolamento social e permitiram a reabertura de estabelecimentos.
O principal argumento de autoridades locais é que o comércio precisa voltar a funcionar para reduzir os impactos econômicos da crise causada pelo novo coronavírus. A medida, porém, é criticada por médicos e especialistas na área da saúde, que afirmam que a reabertura de estabelecimentos neste momento deve aumentar os casos de Covid-19 no País.
Para se adaptar ao período de pandemia, muitos desses centros de compras pelo País têm funcionado em horários reduzidos. Ao reabrir as portas, muitos dos responsáveis pelos estabelecimentos afirmam que tomarão medidas para evitar a propagação do coronavírus, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, a criação de uma área para higienização das mãos, a sanitização de ambientes e a medição de temperatura das pessoas.
Mas para especialistas, as medidas adotadas são insuficientes para conter a propagação do novo coronavírus nesses estabelecimentos no atual período do Brasil em relação ao Sars-Cov-2, nome oficial do vírus. Isso porque os números diários de casos e de mortes no País têm tido sucessivos recordes nas últimas semanas.
Riscos
Estudos mostram que a nuvem de gotículas gerada pela fala, espirro ou tosse pode permanecer suspensa no ar durante longos períodos em ambientes fechados. Outras pesquisas apontam que vírus como o Sars-Cov-2 podem permanecer infectantes nessas nuvens de gotículas por horas. Essas características, segundo especialistas, podem explicar porque a transmissão da Covid-19 é rápida.
“As atividades coletivas dentro de ambientes fechados têm riscos muito maiores do que ao ar livre. Essa suspensão de gotículas no ar possibilita até que uma pessoa que está andando no mesmo ambiente, mas distante, seja infectada”, pontua a epidemiologista Adélia Marçal dos Santos, especialista em dinâmica em transmissão de doenças infecciosas e professora de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul.
Segundo Adélia, as máscaras reduzem a propagação das gotículas, mas, ainda assim, existe o risco de transmissão do novo coronavírus. “As máscaras reduzem a contaminação do ambiente, mas não têm a capacidade de proteger as pessoas contra possível aspiração de pequenas partículas em suspensão no ar, que podem conter o vírus”, explica a médica.
Em razão da facilidade de propagação do novo coronavírus em locais fechados, especialistas afirmam que a reabertura dos shoppings em plena fase de crescimento de casos no Brasil pode aumentar ainda mais os registros do vírus no País.
Um dos casos que ilustra a situação é a de um shopping que foi reaberto em 22 de abril em Blumenau (SC). O estabelecimento reabriu as portas em um evento com aplausos dos lojistas e com a participação de um saxofonista. Os clientes fizeram filas, com máscaras, para entrar no local. Uma semana depois, os casos mais que dobraram no município.
“Temos essa experiência emblemática em Blumenau. A gente acredita que a situação vai continuar se multiplicando em shoppings de todo o País, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, o pesquisador Fernando Spilki.
Spilki comenta que muitas das medidas que os representantes dos shoppings tomaram para reabrir os locais, como a restrição de público, não são eficazes para evitar a propagação do coronavírus. “Muitas vezes, nesses estabelecimentos não há um cuidado com foco na proteção individual. Muitas vezes, não há cuidado no ambiente para evitar a propagação do vírus. Nesses locais pode haver filas e as pessoas nem sempre respeitam o distanciamento social (de dois metros). Isso facilita a transmissão do vírus”, diz.