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Por Redação O Sul | 13 de julho de 2018
Luka Modrić, Mario Mandžukić, Ivan Rakitić e Ivan Perišić, além de serem jogadores de destaque da seleção croata, o término do nome em “ić” é outro ponto em comum entre eles. Dos convocados para esse Mundial, 15 dos 23 jogadores possuem esse sufixo (elementos acrescentados no final de uma palavra), ou seja, cerca de 65% dos atletas têm o “ić” registrado nos uniformes. De acordo com a professora de croata Danijela Pavičić, as duas letras juntas no nome significam “filho de”.
Danijela, cujo o nome se pronuncia “Daniela” apenas com o “i” um pouco mais longo, nasceu na capital da Croácia, Zagreb. Aliás, a forma correta de se dizer o nome da cidade é “Zágreb”, e não “Zagréb”, como geralmente os brasileiros falam. No país finalista do Mundial, as sílabas tônicas costumam ser as primeiras. Mas, atenção: ela explica que o “ć” não é a letra “c” com acento, mas uma letra própria do alfabeto latino usada na Croácia.
Ao contrário dos sérvios que utilizam o cirílico, já que eles formam um país que segue a Igreja Ortodoxa, os croatas usam o alfabeto latino por serem católicos. Nas línguas latinas, como o português e espanhol, os acentos são apenas modificadores da entonação das vogais existentes. No croata, que é uma língua eslava, junto com uma consoante, formam uma letra independente dentro do alfabeto. A pronúncia correta do “ć”, em português, é “tch”.
“O significado do sufixo “ić” é muito antigo e de origem europeia. Quando a população ainda era pequena, as pessoas eram identificadas como “filho de fulano”. Como são letras que não existem no alfabeto brasileiro, o pessoal acha que é um “c” com acento, mas é uma consoante própria”, explicou ao jornal Extra Danijela, que é formada em Letras e Administração de empresas pela PUC-SP.
Nascida na antiga Iugoslávia, que após sua desintegração deu origem a Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Eslovênia, Montenegro, Sérvia e Kosovo, país de independência com reconhecimento limitado desde 2008, Danijela começou a dar aula de croata para brasileiros em 1998. De acordo com ela, esse foi “o ano que os brasileiros descobriram o país”, já que a seleção então comandada por Miroslav Blažević conquistou o histórico terceiro lugar no Mundial.
Doutor em linguística e professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Vojislav Aleksandar Jovanovic explica que a língua falada na Croácia é eslava, aliás, a mesma utilizada na Sérvia, na Bósnia e em Montenegro. Até a dissolução da antiga Iugoslávia, era simplesmente denominada servo-croata. Após o esfacelamento, por questões políticas internas, croatas passaram a chamar a língua apenas de “croata”. Os bosníacos chamam a língua de bosníaca, em Montenegro, de montenegrino, e na Sérvia, chamam-na de língua sérvia. Portanto, há um mesmo idioma com quatro nomes diferentes, em decorrência de problemas políticos e de nacionalismos.
“O “ić” no final dos sobrenomes em todas essas hoje repúblicas independentes significa”filho de”. Pronuncia-se “itch”. O mesmo acontece com sobrenomes poloneses: o itch é grafado icz. Idem em russo(Ivan Vassílievitch Bunin, quer dizer Ivan filho de Vassili Bunin). O “ić” é uma partícula como o “son” em Johson, em inglês e o “sen” em Hansen, em dinamarquês etc”, exemplificou Jovanovic.
Nomes com terminação “ić”:
Dominik Livaković, Nikola Kalinić, Danijel Subašić, Ivan Strinić, Josip Pivarić, Ivan Rakitić, Mateo Kovačić, Luka Modrić, Marcelo Brozović, Filip Bradarić, Ivan Perišić, Andrej Kramarić, Nikola Kalinić, Mario Mandžukić, Ante Rebić e o técnico Zlatko Dalić.