Sábado, 12 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 29 de junho de 2019
Celebrado por Brasil e Argentina – em especial pelo presidente Maurício Macri, que vai enfrentar as urnas no fim do ano –, o acordo entre União Europeia e Mercosul, além de todos os impactos econômicos que a região poderá ter, tem alguns fatos políticos importantes. O mais relevante: este acordo é um forte recado dos europeus a Donald Trump. As informações são do jornal O Globo.
Não é segredo para ninguém que o presidente americano tenta criar um novo front da guerra comercial com a União Europeia, por causa dos produtos industrializados do Velho Continente. Trump não esconde seu descontentamento com isso, principalmente por causa dos carros alemães, que entram em grande quantidade nas grandes cidades e estradas americanas. Até então, os europeus tinham pouco a ameaçar Trump. Mas com o acordo, segundo uma fonte envolvida diretamente nas negociações, mas que pediu sigilo, agora a Europa pode falar grosso com Washington: Se não comprar nossos carros, vamos comprar produtos agrícolas dos brasileiros, argentinos, paraguaios e uruguaios, com quem já temos um acordo.
“Não fosse essa necessidade de ter mais munição contra Trump o acordo continuaria na longa e tortuosa negociação”, disse esse negociador, que afirma que, apesar de o bumbo político tocar para o governo de Jair Bolsonaro, os grandes pontos vem da era Michel Temer no Planalto.
Sim, acordos comerciais são importantes e o negócio é fonte de progresso e emprego. Mas a relação Bruxelas-Washington é muito mais relevante que este novo tratado entre o Atlântico Norte e Sul.
Além disso, há política envolvida também na relação entre as duas regiões que estão celebrando o acordo. Atrelados ao maior envolvimento comercial, europeus terão mais influência para tentar evitar que o governo brasileiro, na atual gestão, abranda demais as regras ambientais, a ponto de ameaçar a Amazônia. Angela Merkel (Alemanha) e, principalmente, Emmanuel Macron (França) já falaram isso com todas as letras.
E este acordo, que será celebrado como a melhor notícia econômica de fato concluída do atual governo, serve de contrapeso às críticas ao “globalismo” que cresceram no Itamaraty com a chegada de Ernesto Araújo no topo da chancelaria nacional. Nenhuma região do mundo é mais integrada e adota os valores de liberdade – parte da crítica do Globalismo – que os europeus.
Dito isso, os detalhes vão indicar quanto cada lado cedeu para este acordo. Muitas amarras ainda impedirão um amplo e geral fluxo de produtos entre os dois blocos. Mas já é um passo imenso perto do que havia antes. E, segundo este negociador, ajuda inclusive a dar um fôlego ao Mercosul, que andava apanhando muito de Brasília e Buenos Aires.