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Futebol Por que Marta não tem patrocínio e ganha menos de 1% do salário de Neymar?

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A atleta está sem patrocínio desde julho do ano passado, quando seu contrato com a Puma acabou.(Foto: CBF/Divulgação)

Rosto sério, cenho franzido, uma bagagem de mais de cem gols pela seleção, seis títulos de melhor do mundo e um par de chuteiras pretas – sem qualquer marca de patrocinador. Foi assim que Marta se apresentou em campo na Copa do Mundo até agora, para jogar luz sobre um problema não apenas brasileiro, mas global: a disparidade de salários e investimentos entre futebol feminino e masculino. Afinal, segundo muitos estudiosos do tema, é somente a discriminação de gênero entranhada em toda a cadeia esportiva que explica por que a melhor jogadora de futebol de todos os tempos ganha € 340 mil por temporada, enquanto Neymar, por exemplo, recebe € 91,5 milhões (R$ 396 milhões). Com isso, ela ganha apenas 0,3% do rendimento anual do jogador, bem menos de 1%. As informações são do jornal O Globo.

Na chuteira de Marta, o que se vê, no lugar da logomarca de um patrocinador, é o símbolo do movimento “Go equal”, que luta por equidade de gênero. A atleta está sem patrocínio desde julho do ano passado, quando seu contrato com a Puma acabou. Marta se recusou a renová-lo pelo valor oferecido – não foi divulgado quanto.

A discrepância entre o que jogadoras e jogadores recebem ficou evidente em um levantamento feito este ano pela revista “France Football”, uma das mais renomadas da área, sobre os maiores salários do futebol mundial. A lista mostrou que a soma dos cinco salários mais altos do futebol feminino totaliza € 1,79 milhões – o equivalente a cerca de R$ 7,7 milhões. Isso não é sequer um décimo do salário do quinto jogador mais bem pago, Gareth Bale, que leva para casa € 40,2 milhões – algo em torno de R$ 175 milhões.

No ranking, a atacante norueguesa Ada Hegerberg, eleita a melhor do mundo em 2018, recebe € 400 mil por temporada – 325 vezes menos do que Messi. Convertendo o valor para um salário mensal, a jogadora do Lyon recebe € 33 mil (cerca de R$ 150 mil), já o argentino ganha € 10,8 milhões por mês (cerca de R$ 47 milhões). Em protesto, Ada Hegerberg se recusou a participar desta Copa do Mundo.

A disparidade é ainda mais surpreendente quando se compara a média de salários dos jogadores de clubes da Série A do Campeonato Brasileiro com o salário da norueguesa. Os atletas que disputaram o Brasileirão em 2018 recebem em média, segundo levantamento do site Sporting Intelligence, € 576 mil por temporada – em torno de R$ 2,5 milhões.

O principal argumento usado para “justificar” esse cenário é o fato de que o futebol feminino, enquanto produto, é bem menos rentável do que o masculino, logo gera menos dinheiro para se investir nas atletas. No entanto, quem estuda o assunto recomenda inverter essa relação de causa e efeito.

As jogadoras ganham menos porque, por acaso, participam de um mercado que gera remuneração menor ou é o mercado que paga menos porque se trata de mulheres?”, diz Vívian Almeida, professora de Economia do Ibmec RJ, que pesquisa gênero e mercado de trabalho. “A primeira opção, da lei de mercado, é a argumentação mais comum (para defender salários menores para elas). Mas essa é uma visão muito míope.”

A professora ressalta que, não apenas no esporte, mas em várias searas da vida, não basta a mulher alcançar os mesmos resultados do homem para conseguir pedir direitos iguais. É preciso superar as marcas masculinas para ser capaz de chamar atenção para disparidades.

A Marta precisa ser a Marta para chamar atenção”, resume ela. “Eu brinco que é o ‘fardo Mulan’ (a personagem da Disney): você tem que salvar a China, fazer algo descomunal, para poder começar a brigar por igualdade. Infelizmente.”

Há exatamente 40 anos, o Brasil nem sequer poderia ter uma Marta. Somente em 1979, foi derrubada a lei que proibia as mulheres de jogar futebol no Brasil. Essa perspectiva histórica, destaca Vívian, é fundamental para entender o preconceito contra futebol feminino e a falta de valorização e de estrutura.

A gente não está acostumado a entender a mulher como potencial jogadora de futebol. As jogadoras, hoje, ainda estão construindo um caminho. Não estão seguindo um já traçado antes delas, como é a realidade dos homens.”

Fabio Kadow, diretor de marketing da Puma, última patrocinadora de Marta, disse que a parceria com a jogadora brasileira chegou ao fim, em julho de 2018, no momento em que “não conseguiram avançar nas negociações”. “Tivemos uma parceria por muitos anos com a Marta, quando pouco se falava de futebol feminino. Estivemos juntos durante grandes momentos da carreira dela, fato que é de muito orgulho para a Puma”, complementou Kadow, sem mencionar qual foi a quantia oferecida à jogadora.

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https://www.osul.com.br/por-que-marta-nao-tem-patrocinio-e-ganha-menos-de-1-do-salario-de-neymar/ Por que Marta não tem patrocínio e ganha menos de 1% do salário de Neymar? 2019-06-18
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