Sexta-feira, 27 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 26 de junho de 2025
O clima entre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva nunca foi tão ruim. A enorme derrota imposta ao Palácio do Planalto na noite de quarta-feira (25), quando a Casa derrubou por ampla maioria o decreto presidencial que elevava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), foi apenas um dos muitos sinais enviados por Motta nos últimos dias de que o descontentamento é grande – e crescente.
Irritado com a postura do Palácio do Planalto, o deputado recusou-se a atender ligações da ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffman, chefe da articulação política de Lula. Por mais de uma vez, ela tentou falar com o deputado ao telefone, buscando um caminho para abrir negociações às vésperas da sessão que derrotaria o governo. Motta ignorou os chamados.
O presidente da Câmara já havia deixado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sem retorno. O chefe da equipe econômica tentara contato por mensagem, mas ficou sem resposta.
Para Motta, Haddad vem agindo com “deslealdade” ao seguir atirando contra decisões do Congresso nos bastidores e em falas públicas. Ele tem reclamado que o governo decidiu investir na ideia do “nós contra eles”, tentando colar no Congresso a imagem de defensor do interesse de “lobbies” e do “andar de cima”. Além disso, o deputado tem argumentado que a falta de coordenação do Planalto faz com que seja muito difícil avançar em negociações.
Segundo interlocutores, Motta tem repetido que não irá “fazer o jogo do governo”, que precisa defender os interesses da Câmara e que, por isso, marcar posição contra o Planalto no IOF favorece sua posição.
Neste sentido, capitanear os esforços para sustar o decreto de Lula era importante após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-PB) liderar a sessão do Congresso que derrubou uma série de vetos presidenciais, dizem interlocutores de Motta. A avaliação é que a Câmara não poderia ficar atrás no enfrentamento e que, por isso, um movimento mais contundente do deputado contra a agenda de Lula era necessário.
Já integrantes do governo veem, por trás da postura do presidente da Câmara, o desejo de antecipar a disputa eleitoral de 2026. Eles lembram que o deputado chegou ao comando da Casa com o respaldo de lideranças do centrão interessadas em apoiar um candidato da direita na próxima corrida presidencial.
Na avaliação de auxiliares de Lula, só isso justificaria uma mudança de postura de Motta, que vinha indicando estar disposto a ajudar o governo a achar uma saída mais palatável ao Congresso no caso do IOF.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou ontem que a votação que derrubou o decreto de Lula é “bastante traumática”. Segundo ele, houve um acordo entre Motta, líderes e Haddad para dar seguimento à proposta do IOF nos termos apresentados. O senador, que é muito próximo a Lula, lembrou que a Congresso “vive de cumprir acordos” e isso se desfez com a decisão dos parlamentares de sustar o decreto presidencial.
Wagner afirmou ainda que Lula deve procurar Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para conversar sobre o resultado da votação de ontem. (Com informações do jornal O Globo)