Segunda-feira, 25 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2025
Para o investidor de renda fixa pós-fixada, isso significa um ganho extra
Foto: Marcello Casal Jr./Agência BrasilO aperto monetário imposto pelo Banco Central começa a dar resultados aos olhos do mercado. O último Boletim Focus, divulgado na última semana passou a projetar que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará abaixo de 5%, fechando 2025 em 4,95%.
Para o investidor de renda fixa pós-fixada, isso significa um ganho extra – com expectativa de desaceleração da inflação, o juro real ultrapassaria os 10% ao ano, um patamar difícil de ignorar.
Na prática, o juro real é a diferença entre a taxa básica de juros e a inflação. Se a Selic está em 15% e o IPCA projetado é de 4,95%, o retorno acima da perda de poder de compra do dinheiro chega a mais de 10% ao ano.
“O investidor deve ter um cenário favorável nos próximos meses com Selic fixada em um alto patamar e inflação controlada”, afirma Felipe Pagano, da Peak Invest.
Essa janela, no entanto, é efêmera. Com a inflação desacelerando, a expectativa é de cortes na Selic já ao final deste ano, com o mercado precificando a taxa de juros a 12,50% ao final de 2026.
Na renda fixa, as melhores oportunidades estão nos títulos atrelados ao IPCA com vencimentos de médio e longo prazo, para levar até o vencimento, segundo especialistas. Nesta segunda, o Tesouro IPCA + 2029 entregava 7,66% de rendimento acima da inflação.
João Piccioni, CIO da Empiricus Asset, explica que a abertura dos juros reais para mais de 10% cria um paradoxo, pois, apesar de ainda oferecer um CDI atrativo, a perspectiva de desaceleração da inflação reforça que a queda dos juros está mais próxima.
Ou seja, quem ficar no “quentinho” do CDI vai começar a perder retornos melhores em investimentos com um pouco mais de risco, mesmo sem sair da renda fixa. “O investidor brasileiro se acostumou ao conforto do CDI, mas, olhando para frente, a tendência é de buscar papéis atrelados à inflação e, ainda que de forma residual, até mesmo a Bolsa”, diz.
Esse movimento não se restringe ao investidor local. O estrangeiro, que tem aproveitado o diferencial de juros via carry trade, também pode mudar de rota com a esperada maior volatilidade do câmbio em 2026. No carry trade, o investidor pega dinheiro em moeda de juros baixos e aplica em outra de juros altos. “Hoje o câmbio está ancorado pelo diferencial de juros, mas esse conforto deve ceder. O ano que vem deve trazer mais volatilidade para o real”, diz Piccioni, reforçando que essa vantagem deve diminuir com cortes da Selic.
Para o investidor local, o analista financeiro Rafael Zattar diz que é possível aproveitar o momento para travar retornos de longo prazo. “O IPCA+ ainda entrega retornos acima de 7% ao ano. É uma taxa fantástica para garantir aposentadoria”, afirma.
Para quem acredita na queda dos juros, uma estratégia é mirar papéis mais longos, como o Renda+ 2065, para capturar ganhos de marcação a mercado, compondo a carteira com vencimentos intermediários, como 2040 e 2050. “Se a curva fechar, a Bolsa e os fundos imobiliários já terão subido. Para quem perder essa oportunidade, a saída pode ser dolarizar parte da carteira ou manter caixa para a próxima janela”, completa.
A aposta em títulos longos, no entanto, só deve ser feita por quem não precisa de liquidez, ou seja, que não vai precisar daquele dinheiro no curto prazo. Piccioni vê com cautela a ideia de travar posições em títulos muito longos, como os IPCA+ de 30 anos ou mais. Ele diz que isso exige acreditar que a economia brasileira vai dar certo por três décadas, o que considera otimismo excessivo diante da tradicional volatilidade política e fiscal do país.
“Não tem um título atrelado à inflação de longuíssimo prazo que faça sentido sem um grau enorme de otimismo. Vamos ter muita volatilidade até lá”, afirma. Por isso, Piccioni prefere pensar em vencimentos médios e, no longo prazo, apostar na Bolsa. “Boas empresas devem entregar retornos acima da média nos próximos dez anos, mais do que um IPCA+ 2065″, diz.