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Por Redação O Sul | 31 de julho de 2016
Na pele do malvado Rubião de “Liberdade, Liberdade”, Mateus protagonizou uma cena de nu logo no primeiro capítulo da novela que causou um grande rebuliço na internet. Quando a Igreja Católica se posiconou contra a cena de sexo entre os personagens de Caio Blat e Ricardo Pereira, ele usou sua conta pessoal no Twitter para expor sua posição a favor dos colegas e da dramaturgia. Porque Mateus é assim. Um ator talentoso que defende seus pontos de vista sem medo de críticas. Ah! E também não foge de nenhuma pergunta. Confira abaixo a entrevista feita com o ator pelo colunista Leo Dias.
Mateus Solano interpreta o malvado Rubião em “Liberdade, Liberdade”. (Foto: Ricardo Penna/Reprodução)
Você fez o Félix em Amor à Vida (2013) e agora faz de novo um vilão em “Liberdade, Liberdade”. Os vilões te fascinam?
O ser humano me fascina, acho que o vilão tem uma coisa errada, socialmente falando, e isso traz uma complicação para o trabalho, para a humanidade dele, podemos dizer assim. Trabalho me fascina, desafio me fascina, seres humanos complicados me fascinam. E o vilão é geralmente complicado. Nesse sentido posso dizer que sim. Mas não por ser vilão, mas por ser um ser humano complicado que vai me oferecer um desafio como ator.
Com Félix você protagonizou o primeiro beijo gay da TV. Félix foi o personagem mais marcante da sua carreira?
Costumo dizer que o personagem mais marcante da minha carreira é o que eu estou fazendo no momento. Então hoje é o Rubião. Agora, se formos falar de números, e não só do tamanho do trabalho, mas do tamanho da repercussão e que continua existindo e o personagem, posso dizer sim que ele foi o mais forte. Mas como ator, é sempre o desafio que estou enfrentando que é o mais precioso, mais marcante.
Você já foi xingado nas ruas por causa desses personagens?
Sempre com muito carinho (risos). São xingamentos com muito carinho. Acredito que há um tempo, quando as pessoas não sabiam tanto da vida da gente, existia uma separação um pouco maior, um pouco inocente de boa parte do público de televisão de não separar o ator do personagem, mas acho que hoje isso tende a ser diferente.
Você tem algum segredo para eliminar a energia desses vilões quando sai do set?
A gente entra numa questão que é pessoal de cada ator. Tem atores que realmente mergulham, voltam pra casa mexidos com aquilo. Eu tenho a tendência a brincar. Eu estou aqui brincando, mas confesso que eu estava brincando até esse final. Eu sempre tento defender meus personagens, achar humanidade neles, e o Rubião nesse final vai se mostrando tão psicopata, tão amoral, que confesso que nessas últimas cenas depois que ele casa com Joaquina começaram a me dar um certo asco, uma certa dificuldade em lidar com essa maldade toda do Rubião. Mas não é uma coisa forte que eu precise tomar um banho de sal grosso nem nada disso. Tento sempre me concentrar para fazer o melhor trabalho, seja vilão ou mocinho. Não tenho essa questão. Não hoje, porque amanhã vai saber? Eu já fui diferente também, hoje é assim.
Você apareceu nu logo no primeiro capítulo de “Liberdade, Liberdade”. A repercussão na internet foi enorme. Houve um constrangimento?
Nenhum constrangimento, foi uma proposta do Vinícius (Coimbra, diretor) ali na gravação e eu topei na hora, porque achei que ia ficar bacana para a cena. Em nenhum momento eu parei pra pensar na repercussão da nudez, que foi grande. Mas não é o tipo de coisa que eu preste atenção.
Você se preocupou em intensificar a malhação quando soube que apareceria nu em “Liberdade, Liberdade”?
Não foi por essa questão. Na verdade eu comecei a ganhar massa no tronco porque o Vinícius (Coimbra, diretor) pediu, achou que o Rubião era mais largo do que eu. Então comecei a intensificar uma malhação no tronco. Mas aí caí do cavalo e essa malhação intensa teve que parar (risos).
A novela é um sucesso no horário. Quais são os pontos altos da trama?
Na minha opinião é uma novela diferente, a qual a gente não sabe o que pode esperar dela. Por um lado, é assim porque o autor oferece novidades, como por exemplo a morte do Raposo (Dalton Vigh), um protagonista morrer no meio da novela, não no final. E por outro lado — o que pode parecer estranho — é justamente porque conhecemos a história do Brasil que a gente tem certeza que não sabe qual será o final da novela, porque o Brasil tem sua Independência em 1822 e Joaquina está contando sua história em 1808. Então é um final que a gente realmente não sabe qual será. Fora isso, tem a crueza — e a consequente crueldade — da encenação da novela, que tem a pretensão de mostrar como era a vida na colônia no início do século 19, uma vida muito selvagem. Acho que essa selvageria a gente conseguiu passar até determinado ponto para a tela. Então uma série de coisas para mim fazem esse sucesso: as novidades, uma trama ágil, bacana, a inteligência do texto, tudo isso foi responsável. Mas eu responsabilizo muito o Mario (Teixeira, autor). Porque acho que até nosso trabalho como ator, e dos direitores, e de todo mundo envolvido tem a ver com a gente gostar muito de contar essa história. A gente fica ansioso pra ler os novos capítulos.
Como foi o processo de composição de Rubião?
A gente teve toda a preparação aqui — aulas de esgrima, workshops, luta, etiqueta — temos a prosódia, coloquei uma musicalidade diferente nele, nessa voz dele bem grave, bem gutural, e li algumas coisas sobre a época, sobre como era viver na Colônia, não só o material cedido pela Globo, mas alguns outros livros da vinda da família imperial pro Brasil e como era viver no período. E uma grande referência pra mim foi Drácula, que eu li inteiro. Eu queria que a ‘energia’ do Rubião perpassasse a energia do que a gente conhece dessa figura do Conde Drácula. O figurino ajudou pra isso, o texto também. Estes foram alguns dos meus pontos de apoio para criar o Rubião.
Você se identifica com Rubião em algum aspecto?
Os objetivos do Rubião são tão diferentes dos meus, são tão malvados tão cruéis… E mesmo que alguma atitude dele se assemelhe a minha, os fins dele não justificam os meios. Os fins dele são tão cruéis que mesmo que alguns meios nossos sejam parecidos, não posso dizer que me pareço em nada com o Rubião, porque o objetivo seria diferente.
A Igreja fez uma campanha para que as pessoas não assistissem a cena de sexo entre Caio Blat e Ricardo Pereira. Você se manifestou contra a posição da Igreja em seu Twitter. Por quê?
Eu acho que uma igreja, uma religião deve disseminar amor. E acho que o ser humano tem mais é que ir pra frente. Eu curto muito tradições, rituais, mas acho que a gente precisa andar para a frente. O afeto das pessoas deve ser respeitado.
Você acha que o amor por Joaquina (Andréa Horta) pode redimir Rubião?
Eu adoraria, mas não (risos). Eu como ator gostaria que alguma coisa o puxasse para outro lado, mas parece que não. Mesmo os conflitos internos do Rubião são entre o mal e o mal. Não tem outro caminho dentro dele, a própria relação com a Rosa acho que é muito doentia, essa vontade dele de caçar, ele é um caçador. A própria coisa boa do Rubião está misturada a tantas coisas ruins que é absolutamente contaminada, então acho que não há possibilidade de redenção.
Em março, você sofreu um acidente durante as gravações. Caiu do cavalo. Você não usa dublê em cena? Passou a usar depois do acidente?
A gente já usava dublês para grandes cavalgadas. Foi um acidente, com todo tamanho da palavra acidente. O cavalo pisou em falso e ele me tirou de cima dele, algo que podia acontecer. Foi uma pena, mas eu não tenho grandes cenas de cavalgada. Se você perceber, o Rubião é meio monolítico, não é um cara com grandes movimentos. Não só eu, todos temos dublês para nos poupar.
Você fez o Zé Bonitinho na “Escolinha do Professor Raimundo” e recebeu muitos elogios pelo trabalho. É bom fazer papéis menos densos?
Sempre essa questão, do que será que é mais complicado, mais difícil, mais desafiador… São personagens muito diferentes. O Zé Bonitinho me exige muito, porque ele exige muito estudo, porque ele é um personagem que já existe, foi feito durante 40 anos pelo seu criador. Então eu tenho uma concentração muito grande para fazê-lo. E ele é estudado milimetricamente, cada episódio é estudado, então ele tem diversas dificuldades que o Rubião ou outros personagens não têm. Eu não poderia fazer o trabalho que eu faço com o Zé Bonitinho por uma novela inteira, eu teria que marcar inteiramente com tiques todas as cenas, ia ser muito mais difícil. Então acredito que cada personagem tem o seu lugar, o Rubião pode ser denso e exige certas coisas que dá para levar para uma novela enquanto o Ze Bonitinho também é denso e funciona melhor em um seriado.
Qual é o lado ruim da fama?
Não passar desapercebido na rua. Porque como pessoa e como ator eu gosto de observar, e a partir do momento que eu sou apenas o observado, já começa uma outra relação diferente do que é aquela pessoa, aquela situação no dia a dia. O resto todo é maravilhoso.
E o lado bom da fama?
O reconhecimento das pessoas e os trabalhos desafiadores que vieram a partir desse reconhecimento. Não só o reconhecimento das pessoas, mas tudo que ele me trouxe. O reconhecimento do meu trabalho como um trabalho plural. Estão me chamando sempre para personagens bacanas e desafiadores. Isso é muito bacana de ter conseguido.
Você é pai de Flora, de 5 anos, e Benjamin, de 1 aninho. Como é o Mateus versão pai? O que você gosta de fazer com eles?
Me considero um pai interessado e carinhoso. Quero levar meus filhos a fazer muitas coisas.
Você está casado com a Paula Braun desde 2008. Qual é o segredo para um casamento duradouro?
Respeito e ceder para o outro e saber quando o outro deve ceder.
Vocês querem ter mais filhos?
A princípio, não.
Você já disse que é muito crítico com o seu trabalho. Você também é crítico na vida? Como na educação dos seus filhos?
O lugar que eu sou mais crítico é com meu trabalho, porque eu sou o único funcionário. Eu sou o chefe, o funcionário, e tudo. Então eu posso ser crítico sem medo de represálias. Nós outros lugares não, eu sou bem mais diplomático.
(Leo Dias/AD)