Sexta-feira, 27 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2015
Nossos medos são pouco racionais ante as estatísticas. Veja o 11 de setembro de 2001. Ele matou 3 mil pessoas e deixou milhões atemorizadas. Uma das consequências é que os americanos ficaram com medo de andar de avião e fizeram mais viagens de carro, que é menos seguro.
Isso resultou em 1,5 mil mortes “extras” em estradas, quase metade das vidas perdidas nos atentados, mas ninguém defendeu ir à guerra por isso.
Por isso, Michael Blastland e David Spiegelhalter, autores de “Viver é Perigoso?”, lançado pela editora Três Estrelas, argumentam que estatísticas são inúteis se sentimentos humanos não são considerados. Veja esse fortíssimo sentimento: a vontade de comer coisas gordas. É muito bem estabelecido que se alimentar mal reduz a expectativa de vida. Mas o que fazemos nós? Com frequências decidimos que é melhor comer um sanduíche de bacon de vez em quando do que chegar aos 110 anos “babando farelo integral”, como brincam os autores.
Morremos de medo de coisas pouco arriscadas. Por outro lado, com frequência somos relapsos com diversos cenários em que muita gente morre, como estando bêbado.
As estatísticas e o sexo.
Em poucas áreas, porém, a dificuldade para conciliar estatística e emoções é tão grande quanto no sexo. Para começar, os dados sobre o tema são delicados. “A chance de contrair uma doença depois de um encontro sexual não é um número que autoridades de saúde gostam de divulgar”, dizem os autores. O motivo é simples: os valores soam baixos. A chance de um homem heterossexual contrair aids de uma mulher contaminada em uma relação desprotegida é de 0,05% – uma em cada 2 mil. O ponto, como explicam os autores, é que dizer que certo risco é só um em 1 milhão não adianta nada para quem é o um. Além disso, um em cada 2 mil em uma cidade com milhões significa muitas contaminações ao dia. E o risco de uma mulher heterossexual é duas vezes maior do que o masculino, em função do depósito de esperma. Sexo anal receptivo é dez vezes mais arriscado. Sexo tem ainda outros riscos, como ataque cardíaco. Um em cada 45 enfartados morre assim.
Claro que ninguém vai deixar de fazer sexo por medo do coração, mas por que as pessoas se expõem tanto a DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) ou filhos indesejados? Primeiro, porque o desejo de fazer sexo é instintivo, e as planilhas dos estatísticos não são. Segundo, porque a exposição ao perigo faz a pessoa pegar confiança. É o famoso “viu, não aconteceu nada” que sucede o teste de gravidez e instiga a repetição do ato irresponsável – até que uma hora a casa cai.
Mundo menos arriscado.
A boa notícia é que o mundo está menos arriscado. No Reino Unido, o hospital mais seguro no começo do século 19 tinha quatro mães mortas a cada cem partos. Mais perigoso do que lutar no Afeganistão. Em Viena (Áustria), o valor ia a 18 – os médicos não lavavam as mãos. Hoje, a taxa britânica é de uma morte a cada 12 mil. No Brasil, uma em 1,5 mil. Certo nível de risco, porém, sempre haverá. Primeiro porque há coisas fora do controle. Além disso, humanos se adaptam a menos risco. Se os carros ficam mais seguros, mais confiantes motoristas ficam para relaxar o cuidado e correr, “jogando o risco aos pedestres, que não têm airbag”. É como diz a piada: o melhor mecanismo de segurança no trânsito seria um espeto na coluna de direção apontado para o peito do motorista. (Folhapress)