Sexta-feira, 11 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 27 de julho de 2019
Em depoimento no qual citou 15 autoridades dos Três Poderes, Walter Delgatti Neto detalhou aos investigadores da Polícia Federal o novelo que o levou a descobrir o número dos telefones e acessar o aplicativo de procuradores, ex-presidentes da República, parlamentares e ministros. As informações são do jornal O Globo.
No relato aos policiais, revelado pela GloboNews, Delgatti disse ainda que foi a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) quem intermediou o contato com o fundador do site The Intercept Brasil, Glenn Greenwald, a quem ele encaminhou conversas extraídas do Telegram de quatro procuradores da Lava-Jato.
O hacker afirma que não adulterou o conteúdo das mensagens e não cobrou dinheiro para repassá-las ao Intercept – fez isso, segundo disse, por considerar o conteúdo de “interesse público”. Manuela confirmou que intermediou o contato entre os dois, acrescentando que desconhecia a identidade do hacker. Disse ter autorizado seus advogados a entregarem cópias das mensagens aos policiais.
Veja perguntas que ainda estão sem resposta:
– 1) Qual a origem do dinheiro encontrado na conta do hacker pela PF? Delgatti afirmou que não recebeu dinheiro em troca das mensagens de procuradores, e a PF investiga a origem de seu dinheiro. No depoimento, ele disse que não exerce profissão remunerada e que obtém seus rendimentos de aplicações financeiras que possui. Mas não soube explicar a origem dos recursos dessas aplicações. O hacker disse ainda que fez operações de câmbio para um amigo, que não quis identificar. Os outros três suspeitos afirmaram não saber qual é a atividade profissional de Delgatti.
– 2) Qual o alcance das invasões de contas? Delgatti citou o nome de 16 vítimas que tiveram o aplicativo Telegram invadido por ele, e disse que só invadiu os programas das pessoas que nominou e de procuradores da Operação Greenfield. A investigação da PF, porém, aponta que mais de 900 pessoas foram alvo de invasões ou tentativas de invasão nos últimos meses, entre eles o presidente Jair Bolsonaro, os presidentes da Câmara e do Senado e a procuradora-geral da República.
– 3) Houve mandantes ou “patrocinadores” das invasões? Ainda não há informações concretas sobre isso. Além dos R$ 100 mil apreendidos pela PF na Operação Spoofing, o que se sabe sobre as finanças dos suspeitos, até agora, é que Gustavo Henrique movimentou R$ 424 mil entre abril e junho do ano passado e Suelen, por sua vez, movimentou R$ 203 mil entre março e maio deste ano. Para os delegados da PF, há incompatibilidade entre a movimentação financeira e as rendas declaradas dos dois. O juiz federal Vallisney de Oliveira autorizou a quebra dos sigilos bancários e telemáticos dos investigados, além do bloqueio de ativos financeiros acima de R$ 1 mil.
– 4) Das pessoas que sofreram ataques, quem teve o Telegram acesso, quem teve dados copiados ou quem foi vítima de tentativas mal-sucedidas de invasão? Delgatti diz que extraiu mensagens trocadas no Telegram apenas por quatro procuradores da Lava-Jato. A PF ainda buscará esclarecer, entre todas as pessoas que sofreram ataques, quem teve o Telegram acessado, quem teve dados copiados ou quem foi vítima de tentativas malsucedidas de invasão. Algumas vítimas, como a deputada Joice Hasselmann, afirmam que o invasor enviou mensagens a terceiros se passando por ela.
– 5) Qual foi o papel de cada um dos suspeitos nos ataques cibernéticos? Embora Walter Delgatti Neto tenha confessado que invadiu a conta de Moro no Telegram, ainda não há informações sobre como teriam atuado os outros quatro suspeitos. Gustavo Henrique Elias dos Santos diz que é inocente, assim como Suelen Priscila de Oliveira. O advogado dos dois afirma que Gustavo atua como promotor de eventos e não tem conhecimento de internet e de computação. Não há informações sobre as suspeitas da PF sobre Danilo Cristiano Marques. Em depoimento à PF, Santos afirmou que teve as contas do WhatsApp e Telegram hackeadas por Delgatti, que diz que os outros três não têm participação nos ataques às contas do aplicativo de mensagens.
– 6) Além de Moro e outras autoridades, quantas e quais pessoas teriam sido hackeadas? Em entrevista coletiva em Brasília, os delegados informaram que encontraram indícios de que supostos hackers também clonaram o telefone do ministro da Economia, Paulo Guedes. A PF diz que um dos suspeitos presos tinha uma conta com o nome do ministro, no aplicativo de mensagens Telegram. Segundo a PF, é possível que quase outras mil integrantes dos três Poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo) tenham sido alvo dos suspeitos nos últimos meses. Entre eles, estaria também a deputada federal Joice Halssemann (PSL-SP), que disse ter sido alvo de um ataque no último fim de semana.