Sábado, 03 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 5 de abril de 2021
Diferente de outras partes do mundo, o Brasil vive seu pior momento na pandemia, com um número crescente de infecções e mortes devido à covid-19.
O aumento do número de casos nos últimos dias foi atribuído em parte à disseminação de uma variante altamente contagiosa do vírus SARS-CoV-2, chamada P.1, que acredita-se ter se originado em Manaus (AM).
Especialistas alertam que o que está acontecendo no Brasil é apenas um exemplo da importância de monitorar o surgimento de variantes do vírus na América Latina.
Esse acompanhamento é conhecido como vigilância genômica e, segundo especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, a América Latina está ficando para trás nessa tarefa.
Especialistas concordam que, embora tenha havido avanços, a vigilância genômica precisa ser fortalecida na região. E alertam para o risco de não ser feita em larga escala.
“A América Latina precisa de uma vigilância genômica forte. Na maioria dos países, ainda é mínima”, escreveu no Twitter, no início de março, a epidemiologista Zulma Cucunubá, especialista em doenças infecciosas e saúde pública da universidade Imperial College London, no Reino Unido.
A genética do vírus
Cada vírus SARS-CoV-2 possui um código genético expresso em uma sequência de 30 mil letras.
Esse conjunto de letras é conhecido como genoma do vírus — e é o que dá a ele as instruções sobre como atuar e se transmitir.
Além disso, essas letras funcionam como um “arquivo histórico da evolução do vírus”, como explica Fernando González Candelas, professor de genética da Universidade de Valência, na Espanha, em artigo publicado no site de notícias acadêmicas The Conversation.
Cada vez que o vírus infecta uma outra pessoa, existe a possibilidade de sofrer uma mutação, algo que é entendido como uma característica própria dos vírus. Assim, os cientistas podem dizer que um vírus sofreu mutação ao perceber que algumas das letras em seu genoma mudaram.
As mutações acontecem o tempo todo, mas quando um grupo de vírus compartilha o mesmo conjunto de mutações, formam o que é conhecido como variante. Durante a pandemia, foram identificadas variantes do SARS-CoV-2 em diferentes partes do mundo.
Algumas delas são o que é tecnicamente conhecido como “variantes preocupantes” porque têm o potencial de ser mais contagiosas, causar doenças mais graves ou reduzir o efeito das vacinas.
Até agora, pelo menos três variantes preocupantes foram detectadas:
— B.1.1.7, identificada pela primeira vez no Reino Unido;
— B.1.351, identificada pela primeira vez na África do Sul;
— P.1, identificada pela primeira vez no Brasil.
Rastreamento de variantes
Essas variantes foram identificadas graças ao fato de os cientistas compartilharem milhares de genomas do vírus em um grande banco de dados global.
Essa base de dados é chamada GISAID, sigla em inglês para Iniciativa Global para o Compartilhamento de Todos os Dados sobre Influenza.
O nome se deve ao fato de que foi originalmente criado para monitorar o genoma do vírus da gripe.
O que os pesquisadores do GISAID fazem é mapear as 30 mil letras da versão vírus que infectou cada pessoa.
A vigilância genômica deve revisar as 30 mil letras do vírus que infecta cada pessoa e observar quais mudanças ocorreram em relação aos vírus de outras pessoas.
“A (vigilância) genômica é a única tecnologia que nos permite identificar as novas variantes que nos preocupam”, afirma à BBC News Mundo Catalina López Correa, médica especialista em genética e diretora executiva da Rede Canadense Genômica de Covid-19 (CanCOGeN).
“Se não entendermos quais variantes temos e como estão sendo transmitidas, corremos o risco de que em algum momento as vacinas não sejam eficazes.”
Por sua vez, Villabona acrescenta que “a vigilância genômica nos permite estar atentos para que o vírus não mude de forma a complicar a situação e que, se estiver mudando, possam ser ativadas estratégias para reduzir seu impacto”.
A equação é clara: quanto maior o número de variantes, é possível que o número de infecções aumente; e quanto maior o número de infecções, maior a probabilidade de surgirem novas variantes.