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Edson Bündchen A falácia do declínio americano

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O fato de países democráticos obterem o mesmo sucesso da China na pandemia, enfraquece a tese de que o uso da força autoritária é que permitiu aos chineses segregar, em duríssima quarentena, centenas de milhões de pessoas. (Foto: Reprodução)

O sociólogo Simon Schwartzman sinaliza três virtudes chinesas que explicam o sucesso daquele país no controle da Covid-19, e que projetam o século XXI sob domínio chinês. Segundo ele, a coesão social, a disciplina e o uso massificado da tecnologia foram decisivos para a China, mas não apenas para ela. Japão, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan também apresentaram características semelhantes. O fato de países democráticos obterem o mesmo sucesso da China na pandemia, enfraquece a tese de que o uso da força autoritária é que permitiu aos chineses segregar, em duríssima quarentena, centenas de milhões de pessoas. Desse modo, o êxito teria sido muito mais derivado da noção que os asiáticos têm do bem comum, e de como o comportamento individual deve ser caudatário do coletivo.

Há, contudo, divergências em relação às previsões de Schwartzman quanto ao êxito futuro da economia chinesa. Não são desprezíveis os argumentos daqueles que pensam que existe precipitação nas previsões sobre o declínio do império americano, especialmente na comparação com o dragão asiático.

Em 1994, John Naisbitt escrevia seu terceiro best-seller em sequência: “O paradoxo global”, no qual previa que já no ano 2000, o PIB chinês ultrapassaria o americano. Isso não ocorreu até hoje, como sabemos. Os EUA detêm mais de 24% do PIB mundial, contra cerca de 17% dos chineses. O poderio americano, conjugando as lideranças em setores vitais, como a indústria do conhecimento, militar e cultural, frustrou aos analistas mais afoitos e demonstrou serem apressadas as previsões sobre a sua decadência.

Ademais, o excesso de poder do Partido Comunista impedirá que a China se torne um país rico. Essa previsão é dos escritores Daron Acemoglu e James Robinson. Para eles, o desenvolvimento econômico sustentável só ocorre dentro de um “corredor estreito” no qual haja um equilíbrio entre o poder do Estado e da sociedade. Esse corredor está desequilibrado na China e tende a comprometer o seu futuro, a menos que mudanças ocorram em favor de maior liberdade e democracia. Somente democracias liberais podem garantir a lei, proteger os pobres, construir infraestrutura, educar e cuidar dos doentes. Mas só entregam esses bens quando movidos por uma sociedade mobilizada em potentes grupos de pressão. A internet, nesse sentido, tem sido um instrumento vital para o fortalecimento e mobilização desses grupos.

Assim, é bem possível que os chineses, apesar de uma aparente vantagem por terem obtido o selo de fábrica do mundo, contarem com uma cultura de abnegada disciplina ao trabalho, deterem forte coesão social e manejarem com inteligência as novas tecnologias, tenham que enfrentar muitos desafios pela frente. Para proporcionar ao seu povo mais do que atualmente seu regime oferece e aspirar superar a hegemonia americana, seu corredor democrático terá que ser aberto, e isso pressupõe liberdade a seu povo, o que ainda não existe por lá.

Do ponto de vista dos interesses brasileiros, diante dessa nova arquitetura geopolítica que se desenha para as próximas décadas, é importante manter o diálogo e os canais abertos na frente americana e chinesa. Devido a nossa relativa insignificância nas grandes discussões nos fóruns globais, em áreas estratégicas, como a inteligência artificial, a corrida armamentista e a questão climática, na qual inexplicavelmente abrimos mão de maior protagonismo, é prudente não haver equívocos na leitura da nova realidade global. Para tanto, nossa diplomacia terá que se inspirar nos melhores exemplos da atuação histórica do Itamaraty, a começar pela defesa da independência, soberania, dignidade e interesses nacionais, sem qualquer tipo de subserviência.

 

 

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https://www.osul.com.br/a-falacia-do-declinio-americano/ A falácia do declínio americano 2020-05-28
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