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Edson Bündchen A pena e a espada

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As atuais escaramuças diplomáticas entre os EUA e a China, tendo como pano de fundo uma frenética corrida pela hegemonia econômica mundial, reacendem temores de um confronto bélico entre os dois gigantes. O fechamento, na semana passada, da Embaixada chinesa em Houston, e as desconfianças devido à origem do coronavírus, agravam a sensação de um retorno da Guerra Fria.

Parece pouco provável, contudo, dada à enorme teia de interesses globais interdependentes hoje vigentes, bem como a existência de uma arquitetura diplomática de contenção de pendores imperialistas, haver um confronto militar à moda antiga, pelo menos não do jeito convencional de se fazer a guerra. A guerra, assim como a morte, é um daqueles temas para os quais nossos sentidos se voltam num misto de assombro e fascínio, impondo-nos natural curiosidade. Definitivamente, os arroubos de Trump são bem mais impactantes do que talvez queiramos aceitar, e compreender melhor a dinâmica histórica do fenômeno e dos atores envolvidos nessa atual contenda, pode ajudar a aquietar um pouco a nossa ansiedade.

A teoria da guerra foi construída lentamente, iniciando com os ensinamentos clássicos de Sun Tzu (General Chinês, 544 a.C. a 496 a.C), com ênfase nas táticas de guerra e dissimulações típicas de um jogo que visava confundir o inimigo no campo de batalha. Os ensinamentos do General chinês influenciaram exércitos durante quase dois milênios. Bem mais tarde, Carl Von Clausewitz, General Prussiano (1780  – 1831), foi o responsável por conferir um caráter mais estratégico às manobras militares, incutindo elementos de inteligência e reflexão, facultando ao tema “status” de ciência.

No século passado, as duas grandes guerras mundiais, a par da tragédia humana e material que representaram, incorporaram imensa capacidade bélica, redundando no artefato da bomba atômica, dando à humanidade uma real e terrível visão do extermínio da vida na terra pelas mãos do próprio homem. Durante os dois conflitos, houve significativo avanço na combinação de tática e estratégia, bem como progressos em outras áreas, dentre às quais destaca-se o trabalho seminal nas ciências da computação com o gênio de Alan Turing, sinalizando a simbiose futura que agora experimentamos com tecnologias de ponta a serviço da guerra.

Talvez mais crucial para o futuro da humanidade do que os riscos contidos nos avanços da moderna tecnologia bélica, seja a criação de uma ética para as guerras do futuro. As Convenções de Genebra de 1864 e 1949, estão sendo rapidamente suplantadas por um novo paradigma que se impõe. A guerra cognitiva, da inteligência aplicada na destruição seletiva de seus alvos, será mais “cirúrgica”, com menores efeitos colaterais, mas nem por isso menos condenável. Exigirá, assim, a imposição de limites muito claros de novas regras para esse jogo macabro que infelizmente acompanha a humanidade. Sem esse acordo, o videogame da guerra continuará tendo os protagonistas de sempre, porém com um alcance e impacto correspondente à exponencialidade das novas tecnologias, com consequências assustadoramente imprevisíveis.

A tecnologia embarcada nos modernos exércitos também amplia de modo brutal a distância entre os atores que podem entrar no jogo. Países que estão ficando para trás na corrida tecnológica, abrem mão de protagonismo no tabuleiro geopolítico mundial. A paz ainda está assentada em bases muito frágeis, e precisa do esforço permanente das lideranças globais no sentido de maior cooperação e entendimento. A pena, mesmo sendo leve, pode e deve ser mais poderosa do que a espada. Sem isso, a sombra da guerra continuará a pairar sobre nós, sem a nitidez de um tanque, mas com a discrição silenciosa dos algoritmos.

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