Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de maio de 2023
A alta dos preços dos serviços tem impedido que a inflação diminua no País. O setor de serviços é um espelho que reflete a nossa rotina. Na semana de Sandra Romanelli, que é advogada, tem sempre uma ida ao salão. Mas essa relação de anos entre cliente e prestador de serviço foi abalada pela pandemia e levou um tempo para se fortalecer de novo. Dependia da retomada do emprego, da melhora da renda.
A dona de salão Cléo Verzbickas segurou os preços o quanto pôde, mas agora começou a repassar parte dos custos. “A gente não pode cobrar aquele valor que a gente tinha antes da pandemia ainda. Eu percebo que está melhorando”, diz.
Dá para perceber também olhando a alta da inflação de serviços – acima do índice geral de preços. No acumulado de 12 meses, subiu 7,49%, enquanto o IPCA ficou em 4,18%.
Retrospecto
Para entender uma alta que já vem de meses, é preciso olhar para trás. Os brasileiros começaram a procurar por serviços que tinham ficado em segundo plano. Ligados a uma vida fora de casa, como sempre foi. Consertaram e fizeram a manutenção do carro que andou passando mais tempo parado na garagem. Também deram um trato na funilaria, contrataram seguro e voltaram a pagar por estacionamento.
“Na época da pandemia, parou de usar bastante o carro. Ou seja, o carro ficava 90% do tempo dentro da garagem. Agora, as pessoas estão saindo de casa com o carro e precisam fazer manutenção do carro”, contam o dono de oficina mecânica Eliel Quintino Gomes.
Demanda reprimida
O professor de economia Fábio Gallo explica que a inflação dos serviços tem a ver com demanda reprimida. Não é só o custo do combustível que jogou para o alto o preço das passagens aéreas, por exemplo. Tem também a vontade de viajar.
“Tem toda uma demanda reprimida das pessoas quererem sair, viajar, passear, turismo né? E isso volta e demanda mais esse setor de serviços. A nossa perspectiva inicial de começar ter uma queda de inflação mais substancial por agora, ela vai para frente um pouquinho. Nós vamos sentir um pouco mais já para o segundo semestre, provavelmente”, explica o economista.
Zona do euro
Um dos principais desafios para a Europa está no aumento dos preços no setor de serviços. O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse que as próximas decisões de política monetária vão depender da evolução do núcleo da inflação, assim como da atualização das condições econômicas.
“É importante olhar tendências e, no caso do núcleo da inflação, é especialmente preocupante o setor de serviços. Os serviços na Europa estão puxando muito mais que a indústria. Por isso, países em que os serviços são importantes, como a Itália ou a Espanha, há aceleração maior que países como Alemanha ou Holanda, onde a indústria é mais importante”, afirmou Guindos.
Segundo o vice-presidente do BCE, os serviços são sensíveis à demanda e ao aumento salarial, fatores que têm levado à aceleração dos preços no setor.
“É a parte que mais nos preocupa no núcleo da inflação, que de alguma forma indica o que pode acontecer nos próximos meses e a médio prazo”, diz.