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Edson Bündchen Antolhos do atraso

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Cada vez mais adensadas, as teorias que estudam o comportamento humano têm reforçado a tese de que as emoções, nossos interesses e paixões governam muito mais as decisões que tomamos do que gostaríamos de supor. Essas pesquisas sinalizam que devemos ser muito cautelosos em relação às nossas convicções, e também mais compreensivos para com as opiniões de terceiros. A humildade e a empatia, contudo, não são vistas com a frequência desejada. Talvez no período mais incerto da humanidade, tenhamos os exemplos mais paradoxais de intolerância e certezas absolutas. Isso tem exposto o debate visto hoje a uma enorme carga de incoerências e polarizações, quer movidas por simples ignorância, quer atreladas a preconceitos, más intenções, ingenuidade ou arrogância intelectual. Saber a motivação de determinadas opiniões e decisões pode iluminar a compreensão do porquê de tanto obscurantismo e negação da realidade, justamente no momento em que mais carecemos de racionalidade e bom senso. Sob o manto da crença irrestrita, muitas vilanias podem estar sendo encobertas, políticas desastrosas sendo engendradas e erros evitáveis cometidos.

No campo da saúde, por exemplo, no pior estágio da mais devastadora pandemia do século, ouvem-se vozes, muitas delas adornadas por formação acadêmica impecável, abraçarem teses totalmente na contramão do consenso médico universalmente aceito, aludindo a teorias conspiratórias sem fundamento e prescrevendo tratamentos preventivos e precoces sem o embasamento das próprias entidades que os representam. A confusão entre evidência de ausência e ausência de evidência, e entre causa e efeito, por exemplo, tem sido um entrave no encaminhamento de soluções efetivas no combate à Covid-19. Essa torre de babel que se converteu a discussão sobre a forma de condução da pandemia no País, se fez muralha contra um mínimo e necessário consenso, consumindo tempo e energia que seriam melhor empregados na correta orientação à população. Nesse caso, não é possível nem mesmo recorrer à “Navalha de Hanlon”, supondo que não devamos atribuir às más intenções aquilo que pode ser explicado por simples burrice. Não é esse o caso. É algo que subjaz à superfície e que ainda precisa ser desvendado, especialmente pelas repercussões de tal paradoxo no contexto da atual tragédia sanitária que atravessamos.

Soluções desprovidas de bom fundamento racional também são comuns na área econômica. Da mesma forma que assistimos profissionais da saúde afrontar os preceitos mais elementares de sua especialidade, vemos economistas caírem na armadilha do intervencionismo ingênuo, imaginando ser possível tirar o País da crise pela simples emissão de mais moeda e dívida pública. Esses equívocos convictos denotam algo mais nocivo do que o alerta dos psicólogos Justin Kruger e David Dunning sobre indivíduos que não detêm competência em determinada área, mas acreditam verdadeiramente saber mais do que os próprios especialistas. Não, aqui o problema é o comportamento errático dos próprios especialistas, num fenômeno que escapa ao efeito “Dunning-Kruger”, ao não contar com as barreiras críticas de quem, em tese, teria repertório para tal.

No Brasil, milhões mal sabem escrever o próprio nome, num oceano de indigência educacional que nos coloca entre os países mais atrasados do planeta. Contar com uma elite intelectual capaz de propor soluções para os problemas presentes e futuros é essencial. Quando, entretanto, esse corpo pensante entra em choque, não em salutar processo dialógico, mas num embate que remonta trazer a idade média como parâmetro para elaborar as estratégias, paga-se um preço. Esse preço, hoje, está sendo dolorosamente convertido em mais mortes, mais sofrimento e piores perspectivas. A ausência de um planejamento eficaz no combate à Covid-19 por parte do Governo Federal teve muitas causas, mas uma delas, e talvez a mais indesculpável, foi a falta de consenso entre aqueles que teriam melhores condições intelectivas para construí-lo.

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