Sábado, 05 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 16 de agosto de 2020
Com o retorno gradual das viagens, mesmo sem uma previsão real do fim da pandemia, muita gente ainda se sente insegura de voltar a andar de avião. Afinal, este ambiente fechado, com dezenas ou até mesmo centenas de passageiros confinados, é seguro?
Nos últimos tempos, companhias aéreas e fabricantes de aeronaves têm se esforçado para convencer os viajantes de que procedimentos de segurança sanitária e o uso de equipamentos de última geração são suficientes para diminuir ao máximo a contaminação pelo novo coronavírus. Especialistas, por outro lado, reforçam os riscos aos quais os passageiros estão expostos, mesmo no curto tempo de uma ponte aérea Rio-São Paulo.
Além de medidas como exigência do uso de máscaras desde a chegada ao aeroporto e suspensão do serviço de bordo em voos domésticos, companhias aéreas passaram a adotar um processo de higienização mais profundo das cabines entre um voo e outro, utilizando desinfetantes de padrão hospitalar, com borrifadores. Ou mesmo um aspersor eletrostático, uma espécie de pistola sanitizante, adotada pela americana Delta.
“Os procedimentos de higiene das cabines, que já eram muito rígidos, foram radicalizados com essa pandemia. O setor debateu muito e desenvolveu um protocolo que é válido tanto para voos domésticos quanto para os internacionais. Mas o que torna o avião a forma mais segura de viajar, efetivamente, são os filtros HEPA”, defende o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.
O filtro em questão, cujo nome é uma abreviação para High Efficiency Particulate Air (Ar particulado de de alta eficiência, em tradução livre), presente em toda a frota brasileira, renova o ar da cabine em média a cada três minutos e é capaz de filtrar 99,9% dos microrganismos do ambiente, entre eles o Sars-CoV-2. A filtragem acontece de forma constante, com jatos de ar de cima para baixo, o que forçaria as partículas do vírus, por exemplo, a irem diretamente para o chão.
Outras ferramentas ainda estão em desenvolvimento. A fabricante Boeing, por exemplo, trabalha numa tecnologia que permite instalar lâmpadas UV, que matam 99,9% dos microrganismos, nos banheiros de suas aeronaves. Assim, o espaço seria purificado logo após cada uso. A empresa também estuda bastões com essas lâmpadas bactericidas que possam ser usados manualmente pelos comissários de bordo, quando os aviões estiverem vazios.
Na Airbus, há estudos sobre o uso de tecidos que, além de serem mais fáceis de limpar, teriam a capacidade de dissolver vírus e germes logo no primeiro contato. A companhia francesa recentemente lançou a campanha “Keep Trust In Air Travel”, para recuperar a confiança dos passageiros ao explicar o funcionamento dos filtros HEPA, presente em seus aviões desde 1994.
“Esse equipamento promove a troca de ar na cabine a cada dois ou três minutos, com mais frequência do que em salas cirúrgicas, onde filtros semelhantes são usados, mas que fazem a reciclagem total a cada dez minutos. Se pensarmos num escritório, por exemplo, essa renovação de ar acontece a cada 20 minutos. Isso é um dos fatores que tornam o avião o meio de transporte mais seguro no mundo pós-pandemia”, explica o presidente da Airbus para America Latina e Caribe, Arturo Barreiras.
Tudo isso, no entanto, não elimina por completo a chance de contaminação. Diferentemente do que acontece em viagens internacionais para destinos que exigem testagem PCR antes do embarque, o passageiro pode voar no Brasil sem saber se está levando o vírus consigo. E a proximidade com alguém infectado pode ser um grande perigo, alerta o infectologista Helio Bacha, do Hospital Albert Eisten.
“Voar certamente é mais seguro do que andar de ônibus ou metrô, pelo controle de ambiente que existe nos aviões. Mas tem o fato de ser um local fechado, com muita gente confinada e sem garantia de que todos vão usar máscara 100% do tempo”, afirma o médico. “Enquanto não houver um distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os passageiros, não dá para dizer que é seguro. Num ambiente de sardinha em lata, filtros especiais e procedimentos de higienização ajudam a diminuir o risco, mas não fazem milagre.”
Voltar Todas de Viagem e Turismo