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Edson Bündchen Conectados?

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O neurocientista francês, Michel Desmurget, alerta para a preocupante situação dos jovens que foram criados mergulhados no mundo digital. Há razões para essa inquietação. Pela primeira vez, testes revelaram que os filhos têm QI inferior aos dos pais. A excessiva exposição a dispositivos eletrônicos e às redes sociais afetam diretamente a base de nossa inteligência, tais como a linguagem, memória e cultura. As novas formas de estimulação mental também acometem os mecanismos de interação social, com reflexos bastante negativos na capacidade de concentração, aprendizagem e relacionamento social, sem contar com maior sedentarismo, comprometendo uma maturação cerebral adequada. O emburrecimento da população avança na direção inversa ao aumento da ambiguidade e instabilidade do mundo, justamente quando deveríamos estar produzindo cérebros melhores, quer do ponto de vista cognitivo, quer também do ponto de vista emocional. As consequências desse processo não tornam a vida mais desafiadora apenas individualmente, mas convertem-se em enorme obstáculo para sociedades que atualmente demandam saberes progressivamente mais complexos e integrados.

As crianças e os jovens de hoje possuem limitada responsabilidade por seu aprendizado insuficiente. Nascidos em plena era da tecnologia digital, o contato precoce com os meios eletrônicos redundou numa maneira de aprendizado bastante diferente da forma tradicional, fato inicialmente saudado como um sinal positivo dos novos tempos. Pais e avós maravilhavam-se com a destreza dos pequenos, que em muitos casos serviam-lhes de tutores diante das incessantes novidades tecnológicas. Ocorre que a exposição digital a que foram submetidos desde cedo calhou ao custo de modelos de aprendizados consagrados ao longo do tempo, dentre eles a leitura concentrada, o hábito de escrever e interpretar, habilidades que perderam espaço diante das telas multicoloridas. Mas não foi somente isso. O excessivo tempo gasto com jogos e diversões eletrônicas foi impulsionado com o surgimento das redes sociais, não sendo incomum que a maior parte do dia estejam conectados, gerando uma série de distúrbios psicossociais, com o aumento nas taxas de depressão juvenil, isolamento social e suicídios, revelando a face mais sombria do atual fenômeno.

Inseridos agora numa sociedade na qual o mantra principal, pelo menos em grande parte dos países ocidentais, repousa na meritocracia, os jovens se deparam com menores chances para os não qualificados, desemprego estrutural crescente e um horizonte ideológico esvaziado. No Brasil, um terço dos jovens entre 18 e 23 anos não estudam, nem trabalham. Para um País que ainda conta com uma franja significativa de “janela demográfica”, situação na qual o número de pessoas com idades potencialmente ativas está em ascensão, é desolador não contar com um projeto capaz de dar vazão a essa oportunidade. A conjugação entre menor inteligência cognitiva, resultado dos excessos à exposição digital, com um funil bastante estreito para empregos bem remunerados, repercute não somente numa menor qualidade de cidadania, mas impacta ainda em sentimentos de exclusão, revolta e ódio contra o sistema, mesmo que esse descontentamento ainda seja bastante difuso.

Mais do que demonizar as telas, até porque o mundo virtual possui inegáveis virtudes, é fundamental antes compreender a extensão e gravidade do problema, particularmente na repercussão simultânea sobre a saúde e o aprendizado das gerações que irão nos suceder. A incapacidade de refletir sobre o mundo pode ser um custo demasiado alto para os nativos digitais, subtraindo-lhes, adicionalmente, uma inserção mais plena e menos alienada no debate político. Ainda há tempo de governos, sociedade e as famílias atuarem em conjunto para que não afundemos no “mundo triste” propalado pelo sociólogo Neil Postman, no qual o acesso constante e debilitante ao entretenimento digital nos levará a amar a servidão, num mundo governado por cretinos digitais.

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