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Tito Guarniere Desigualdade na pandemia

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(Foto: Reprodução)

A pandemia gerou um novo ciclo de debates sobre o Estado. Para a esquerda foi a prova definitiva da necessidade de um Estado forte, com amplos poderes de intervenção, de formular políticas, propor medidas e destinar recursos, capazes – entre outras competências – de gerar um enfrentamento eficaz ao flagelo.

Foi exatamente esse o caso e não apenas no Brasil. Quem mais, além do Estado, teria estrutura e um vasto conjunto de atribuições e poderes para oferecer resposta a mal tão insidioso e devastador? E se é assim, se não havia outra instância a quem recorrer em situação de tal magnitude, então a ação estatal na pandemia não prova nada.

Dou exemplos: o SUS teve e continua tendo um papel fundamental no combate à doença. Mas o SUS já existia, estava estruturado. Não é um modelo maravilhoso de assistência à saúde, mas sendo universal e gratuito foi uma sorte que ele existisse, principalmente para os mais pobres. Outro: só o Estado brasileiro teria recursos para financiar o programa de auxílio emergencial para desempregados e para os mais pobres.

Os servidores públicos são indispensáveis para o cumprimento das múltiplas atribuições do Estado. E dentre eles uma parcela relevante exerce as suas funções com assiduidade, dedicação e competência pessoal. Mas em época de pandemia, e do modo como as coisas se dispuseram, não é possível ignorar a diferença entre a categoria e os demais trabalhadores brasileiros.

Eles, os servidores públicos brasileiros, não perderam seus postos de trabalho, protegidos pela estabilidade. Receberam religiosamente em dia os seus salários integrais – não tiveram nenhum prejuízo nos seus ganhos. A esmagadora maioria deles, de todas as instâncias, permaneceu de resguardo em casa, com todos os cuidados para não serem infectados pela Covid-19.

Já entre os trabalhadores comuns, milhões perderam o emprego. Outros, ficaram em casa e em segurança, mas com redução de salários. Mais de 13 milhões de desempregados não puderam sair de casa nem mesmo para ganhar algum dinheiro, nos serviços informais e os bicos de sua vida precária.

O professorado, pela voz de seus sindicatos, reage contra a volta ao trabalho. As universidades públicas discutiram propostas de ensino online, durante meses da pandemia. As universidades privadas, tendo que manter seus alunos (uma questão de sobrevivência), de sua vez, já estão há meses compensando a proibição de ensino presencial com o ensino online.

Médicos tratam dos doentes da Covid-19 nos hospitais, nas UTIs nas condições mais adversas, com risco severo de contágio e de vida. Já os médicos peritos do INSS estão em greve, causando graves prejuízos a cerca de um milhão de brasileiros que precisam – muitas vezes desesperadamente – da perícia para obter ou renovar os benefícios a que têm direito por lei, como é o caso do auxílio-doença.

A exaltação do Estado pode, sim, ter algo a ver com uma sincera visão de mundo, uma posição filosófica, certa ou equivocada. Mas em larga medida apenas expressa interesses bem concretos de uma categoria, que tem enorme poder de fogo e barganha, que nunca perde nada, que sobrevive intacta a todas as crises.

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https://www.osul.com.br/desigualdade-na-pandemia/ Desigualdade na pandemia 2020-09-26
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