Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de setembro de 2016
Dificuldade para ler, escrever ou soletrar, principalmente na fase de alfabetização, pode não ter nada a ver com preguiça de estudar, como acreditam alguns pais: são sinais de dislexia. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, o transtorno atinge entre 5% e 17% da população mundial.
“Embora o diagnóstico só possa ser cravado após a alfabetização, pais já devem ficar atentos a grupos de risco a partir dos 4 anos. Crianças dessa idade que têm dificuldades para identificar as letras do nome, que não associam cores ou com histórico familiar, por exemplo, estão no grupo de risco”, explica a fonoaudióloga e especialista em desenvolvimento infantil Sheila Leal, criadora do blog “Filhos Brilhantes”, que aborda, entre outros temas, a dislexia.
Após o diagnóstico, que é feito por exclusão – é preciso descartar deficiência visual ou escolarização inadequada, por exemplo –, o tratamento é feito de forma multidisciplinar – com a participação de fonoaudiólogo, psicólogo e neurologista.
“É controverso dizer que tem cura, mas tem tratamento. Com reabilitação da leitura e acompanhamento a longo prazo, monitorando os resultados escolares, os pacientes melhoram muito o quadro”, diz o professor de Neurologia André Matta. Se não tratada, porém, a dislexia pode até ser levada à vida adulta – principalmente se estiver relacionada ao déficit de atenção. “Se carregam isso para a vida adulta, tornam-se adultos frustrados. Há relatos de pessoas com mais de 30 anos pedindo ajuda”, diz Sheila.
Consequências na autoestima.
A demora para diagnosticar a dislexia pode ter graves consequências na autoestima da criança, que pode acabar se sentindo incapaz, comparando-se aos colegas. Além disso, quanto mais cedo for o diagnóstico, maiores as chances de redução dos sintomas.
“Se o diagnóstico for precoce, os sintomas da dislexia diminuem muito. Apesar de também ser tratada na fase adulta, nas crianças o efeito é mais eficaz” explica Sheila. “E, quanto mais demorar o diagnóstico, mais o quadro emocional é comprometido. Pais estão preocupados com a nota, e a criança entra em depressão. Por mais esforço que faça, não consegue retribuir”.
Embora as crianças disléxicas tenham maior dificuldade na alfabetização, elas costumam desenvolver outros talentos, como habilidades artísticas e manuais – e, para os especialistas, é importante que os pais reconheçam isso. “Existe um desconhecimento sobre a dislexia. Os pais vão ao consultório com a ideia de que o filho é preguiçoso, que já gastaram dinheiro demais no aprendizado”, diz Sheila, que esclarece que o distúrbio tem origem neurobiológica: “O processo de leitura e escrita exige duas funções do cérebro, e o disléxico acaba usando apenas uma delas”.
É importante que, além dos pais, os professores também estejam atentos às atitudes das crianças. “Os profissionais da escola devem ter uma conversa muito próxima dos pais. Tudo que for observado deve ser repassado, para que seja feito o encaminhamento da criança a um profissional de saúde”, esclarece André. (AG)