Sábado, 11 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 5 de julho de 2015
Documentos apresentados à Justiça por Ricardo Pessoa, dono da empresa UTC e delator da Operação Lava-Jato, que investiga desvios de dinheiros da Petrobras, mostram pagamentos de propina a políticos e partidos. Pessoa apresentou aos procuradores tabelas, contratos e anotações que comprovariam o pagamento de propina com dinheiro desviado da estatal. O empresário revelou novos nomes, de pessoas de vários partidos. Uma tabela mostra os valores que cada um teria recebido, mas não separa o que é doação legal e o que seria caixa dois.
Para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), Pessoa disse que tratou da entrega de 2 milhões de reais e que parte, 1,4 milhão de reais, foi feita pelo doleiro preso Alberto Youssef. Pessoa disse que fez pagamentos para o PP porque era cobrado e não queria ter dificuldades nos contratos com a Petrobras.
O ex-ministro José Dirceu também é citado na delação. A consultoria dele recebeu cerca de 3 milhões de reais da UTC. Parte do dinheiro chegou à empresa enquanto Dirceu estava preso, condenado no mensalão do PT.
“Apenas e tão somente em razão de se tratar de José Dirceu e da sua grande influência no PT é que, mesmo sabendo da impossibilidade de ele trabalhar no contrato firmado, porque estava preso, o aditamento foi feito e as parcelas continuaram a ser pagas”, disse Pessoa.
Ele afirmou ainda que, a pedido do ex-ministro, fez doação oficial de 100 mil reais, em 2010, à campanha do filho de Dirceu, Zeca Dirceu (PT-PR), à Câmara dos Deputados. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari aparece em outra tabela que o empreiteiro descreve como “controle da conta corrente Vaccari”, mostrando saques que o tesoureiro teria feito em uma conta da empreiteira. Ao todo, foram mais de 3,9 milhões de reais.
Pessoa apresentou repasses ao PT. A lista é de pagamentos de 2006 a 2014 e totaliza 16,6 milhões de reais. O empreiteiro explica a tabela: “Conta corrente com pagamentos ao PT feitos diretamente na conta do partido, desvinculado da época de campanha e que igualmente tinha relação com os pagamentos da Petrobras”.
O dono da UTC citou ainda nomes de políticos que não estão sendo investigados na Lava-Jato. Ele contou que Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão do PT, recebeu 200 mil reais “por fora” e 300 mil reais em doações oficiais. Tudo para manter as portas abertas com o PR, que dominava o Ministério dos Transportes. Segundo ele, nunca houve contraprestação concreta.
Campanha
Os documentos apresentados por Pessoa mostram ainda doações para campanhas eleitorais. Uma tabela tem os dados para a doação à reeleição da presidenta Dilma Rousseff e o contato de Manoel Araújo, que hoje é chefe de gabinete do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, que era o tesoureiro da campanha da presidenta.
Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pessoa disse que se encontrou com ele sete vezes e que entregou dinheiro vivo para a campanha: 2,4 milhões de reais. Mas afirmou que não pode afirmar se Lula sabia da origem do dinheiro.
No acordo de delação, Pessoa explica os motivos para os pagamentos. “Tanto dinheiro doado de forma pulverizada a diversos partidos e políticos tinha uma intenção: fazer com que a engrenagem andasse perfeitamente, tirando, portanto, todas as pedras que pudessem aparecer no caminho. Abertura de portas no Congresso, na Câmara e em todos os órgãos públicos”, relatou.
Silva disse que todas as doações da campanha de reeleição da presidenta foram feitas de maneira legal. E que Araújo era apenas o responsável pela parte burocrática das doações.
A assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não se manifestaria por não ter conhecimento dos documentos. A defesa de Vaccari disse que fazia parte das atribuições dele pedir dinheiro para o PT, mas que os pedidos eram sempre para doações legais. O PT e o PP informaram que só receberam doações legais, declaradas à Justiça Eleitoral. Nogueira garantiu não ter recebido doações da UTC. A defesa de Dirceu negou que o ex-ministro tivesse recebido pagamentos ilícitos e pedido doação para a campanha do filho. Costa Neto não quis se manifestar.
Clube do bilhão
Pessoa é famoso por sua capacidade de organização – característica imprescindível para alguém que exercia uma função vital no chamado “clube do bilhão”. Ele foi apontado pelos investigadores como o chefe do grupo que operou o maior esquema de desvio de dinheiro público da história do País.