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Edson Bündchen Ética: uma agenda atemporal

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De acordo com professor Robert C. Solomon, as virtudes são uma maneira taquigráfica de sintetizar os ideais que definem o bom caráter. Há um grande número delas e seria uma tarefa assombrosa listá-las todas.

No premiado filme “O Gladiador”, do diretor Ridley Scott, há uma cena emblemática na qual os atores Richard Harris, no papel de Marcus Aurelius e Joaquin Phoenix, interpretando Commodus, travam um diálogo de altíssima carga emocional que redunda no parricídio de Marcus Aurélius, o Imperador de Roma.

– Pai, diz Commodus, você me ensinou as virtudes que eu deveria ter: sabedoria, justiça, firmeza e temperança!

– Eu não tenho nenhuma delas, pai, lamentou quase em prantos um mortificado e enciumado Commodus, diante da opção de Marcus Aurelius por Máximus, seu grande general de campanhas militares, como seu sucessor para liderar o Império Romano e fazer a transição para a república.

Esse brevíssimo excerto extraído da sétima arte não tem nenhuma pretensão, além de dar ênfase a uma questão vital, que, por vezes, nos foge diante do despreparo, da indigência moral e intelectual que assola parte de nossa classe política: falar sobre virtudes.

As virtudes importam, e muito. Talvez em tempo algum, especialmente diante dos tempos nervosos, turbulentos e imprevisíveis em que vivemos, foi tão crucial estabelecer limites muito claros e expectativas elevadas, particularmente na régua moral que deve orientar nossos governantes para que a atual sociedade não seja irremediavelmente edificada sob pés de barro.

Afirmar, à maneira de Maquiavel, que há uma regra para os negócios e outra para a vida privada é abrir a porta a uma orgia e falta de escrúpulos diante da qual, a mente recua, conforme bem assinalou R.H. Tawney. Por outro lado, afirmar que não há diferença alguma entre a gestão pública e privada é estabelecer um princípio que poucos homens que enfrentaram a dificuldade na prática se disporão a aceitar como de aplicação invariável, é expor a própria ideia de moralidade ao descrédito, sujeitando-a a uma tensão quase intolerável.

Nessa perspectiva, precisamos exercitar permanente vigilância, não somente em relação às entregas comuns a qualquer governo, estradas, portos, aeroportos, boas leis e todo um imenso conjunto de ações que compõem a natureza da gestão pública. Mais do que isso, devemos ir além e abrir um flanco permanente para discutirmos, ao modo de Marcus Aurelius, quais virtudes são indispensáveis ao gestor público? Quais virtudes esperamos ver nos atos, pronunciamentos e comportamentos de um mandatário da nação? Que tipo de guia moral conduz as decisões que moldarão o nosso futuro? Como bem alertou R.H. Tawney, pode ser bastante temerário imaginar que os governantes operam sob as mesmas premissas e deveres morais da vida privada. E aqui não está embutida uma desconfiança à priori da conduta dos cidadãos, nem se estabelecendo uma moral própria e hermeticamente fechada à gestão pública. Muito antes pelo contrário, o diálogo entre as competências privadas e as virtudes públicas, em seu plano mais elevado, é que darão ao processo uma dinâmica mais rica e potencialmente transformadora.

Devemos, desse modo, trazer a discussão ética para o centro do palco. Um futuro que almejamos começa a adquirir contornos reais quando os cidadãos não somente se reconhecem como atores participantes, mas detém um repertório adequado de virtudes morais vivenciadas e passíveis de imposição a quem nos governa.

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