Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de novembro de 2015
Por inúmeras vezes, a dona de casa Raimunda Tereza Calado, 37 anos, tentou tirar o irmão, Antônio Francisco Calado, 57, do buraco onde ele vive desde 1990, em uma pequena propriedade rural de Nova Roma, no norte de Goiás. Mas todas elas foram em vão. A conclusão a que a mulher chegou é que é “impossível” fazê-lo sair e que é mais fácil tentar criar uma infraestrutura no local para que o ele viva melhor. “Ele está feliz lá, daquele jeito. Sinto que se fizer isso, é capaz até dele morrer em pouco tempo e eu respeito isso. A força, eu não vou trazer ele. Cada um tem que viver como quer. O que eu desejo é dar uma condição melhor de água, alimentação e moradia”, disse Raimunda.
Avaliação judicial.
A situação de Calado motivou uma visita do juiz Everton Pereira Santos. O magistrado foi ao local e avaliou a situação ao julgar procedentes dois pedidos de pensão pela morte dos pais e de interdição judicial, feitos pela irmã. Também ajudou na decisão um laudo pericial apontando que o homem que vive em um buraco tem esquizofrenia paranoide, doença mental que o fez tornou incapaz.
Demência.
Raimunda revela que Antônio sempre morou com os pais em uma pequena chácara da cidade. Quando o pai morreu, em 2000, o homem já começou a ficar, como ela diz, “mais perturbado”. Porém, foi com o falecimento da mãe, em 2012, que a situação piorou, pois eles eram muito ligados. Segundo a dona de casa, o irmão começou a cavar o buraco há 25 anos sem nenhum motivo aparente. “Ele ia lá, cavava e voltava para casa. Mas quando terminou resolveu morar lá. Ele nunca gostou de casa. Quando vai à minha, dorme no quintal, embaixo de um pé de manga”, conta.
Como curadora de Antônio, a irmã vai administrar os dois salários mínimos mensais a que o homem agora tem direito. Além disso, ela vai ter que empregar e prestar conta dos 70 mil reais, referentes ao período retroativo. De acordo com o Poder Judiciário, o Ministério Público deve monitorar os gastos.
Ela diz que a intenção é construiu um barraco no local, mesmo que Antônio não viva nele. Outra ideia é fornecer água tratada para o irmão e alimentos com mais qualidade para que ele não consuma apenas os produtos da pequena horta que cultiva. “O que sinto por ele é amor. Faço qualquer coisa e corro atrás de tudo que estiver ao meu alcance para dar o melhor para ele”, define Raimunda.
Fantástico.
A situação encontrada no local deixou o juiz Everton Pereira Santos intrigado e admirado. “Olha, é uma situação muito peculiar, indescritível. Ao mesmo tempo em que ele aparenta ter muita inteligência para usar técnicas na construção do buraco e manusear ferramentas, demonstra aparentes delírios, dizendo que conversa com os raios e trovões”, observou. “Ele criou um sistema para que a água da chuva não entre no buraco e ele poder utilizá-la depois. É fantástico. Quem ensinou isso para ele? “, questionou o magistrado.
A residência de Calado também impressionou o juiz. Em formato oval e com aproximadamente 8 metros quadrados, a construção tem os cômodos divididos e só é possível chegar a pé. Ao entrar, existe a sala. De um dos lados, um oratório com duas imagens de santos e do outro, o quarto, onde ele dorme sobre um pedaço de madeira com panos velhos. (AG)