Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Tito Guarniere | 17 de maio de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A escolha do cardeal americano Robert Travis Prevost para o Pontificado foi rápida : em dois dias de conclave o martelo estava batido. E bem batido. A brevidade da eleição se deve certamente à elevada condição de requisitos que era atendida por Prevost. É fácil escolher quando existe um candidato com tantas qualificações.
Prevost nasceu em Chicago, EUA, e têm ascendência de franceses, italianos e espanhóis. Foi bispo nos confins da América do Sul (Peru). Poliglota, é o que se pode chamar de cidadão do mundo – convivendo com a opulência americana e com a população pobre e carente da AL. Para coroar o périplo foi chamado para o Vaticano pelo Papa Francisco, ocupando uma secretaria de Estado que se relacionava com todos os continentes: ali eram compostos os perfis dos candidatos ao bispado de todo o mundo.
Deve ter pesado para sua eleição essa vivência cosmopolita, na opulência da América, no planalto andino, no trabalho meticuloso na alta burocracia do Vaticano, tudo a confirmar a universalidade da Igreja, inserida no mundo real, em busca de uma identidade com as exigências da época e com os desafios da instituição eclesial. O sopro do Espírito Santo?
A instituição Igreja – sendo, como é, feita de seres humanos – carrega nos ombros uma formidável carga de erros, os quais vistos aos olhos de hoje, seriam imperdoáveis, a começar por uma sólida e histórica aliança com os ricos e poderosos do mundo, de todas as épocas e lugares.
Mesmo assim, nestes últimos dois séculos, a Igreja foi se abrindo para o mundo, foi compreendendo que eles – os bem-nascidos – não precisavam tanto do beneplácito eclesial, que vinha a ser o do próprio Deus, suposta garantia de ingresso no Paraíso, depois da morte.
E foi um Papa Leão, o XIII, que, com uma encíclica histórica, “Rerum Novarum”, das coisas novas, anunciou ao mundo que a Igreja agora voltava os olhos para os trabalhadores, as mulheres, as crianças, os desvalidos, que se esfalfavam no chão sujo e insalubre das fábricas da revolução Industrial, em troca de um salário miserável, nas condições mais degradantes. Foi uma mudança e tanto. Até hoje, como se viu neste exato momento de escolha de um novo Papa, uma direita egoísta, que não enxerga um palmo diante dos seus narizes empinados, uma elite reacionária, ainda insiste em dizer que o Papa Francisco era comunista e que o novo Pontífice, Prevost, é da mesma linha.
Posso estar enganado, mas a Igreja, em maioria ampla, definitivamente adotou uma vertente humanista, o acolhimento de todos os irmãos, mas com uma opção preferencial pelos mais carentes e desamparados, a linguagem da paz, da tolerância, do amor, como parece ser a essência do ideal cristão.
Prevost, o Leão XIV, por sua vez, terá de enfrentar as dificuldades da Igreja para se manter sustentável em tão vasta e portentosa rede, em Roma e em todos os lugares do mundo. Todos os dias ele terá que se defrontar com a sombra ignominiosa da pedofilia infantil praticada no âmbito dos templos católicos. E talvez tenha de se olhar no espelho e se perguntar porque depois de tanto tempo, as mulheres não podem oficiar os sacramentos e nem participar da escolha do Papa.
(titoguarniere@terra.com.br)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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