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Edson Bündchen Mais do que lucro

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Há cinquenta anos, era publicado no The New York Times um dos mais impactantes artigos de Milton Friedman: “A Responsabilidade Social das Empresas é Aumentar Seus Lucros”. Esse artigo foi relevante nos anos 70, e o debate em torno dele ainda continua. Cada vez mais, empresários e suas associações, lideranças políticas e intelectuais são instados a refletir sobre a participação das empresas nas soluções de problemas como a desigualdade, o racismo, questões ambientais e de gênero. Friedman foi muito claro ao apontar que o papel das empresas é ter lucro, porém dentro do marco legal e ético vigente. Todo o resto é desvio da função que deveria caber ao indivíduo na sua ação política. Será essa uma afirmação que ainda reflete a situação vivida hoje por nossa sociedade?

É inegável que o mundo já não é o mesmo da época do polêmico artigo. A revolução do conhecimento e sua filha predileta, a Internet, transformaram a paisagem da economia, dos costumes, do modo como vivemos e nos relacionamos. Esse novo campo de jogo teve, obviamente, reflexos também profundos na forma como as empresas competem, geram lucros e se conectam com a sociedade. O ambiente contemporâneo moldou um conjunto singular de responsabilidades corporativas, a partir de uma crescente demanda e complexidade que alcançaram as organizações, ampliando imensamente seus compromissos. Definitivamente, gerar apenas lucro, se tornou insuficiente, senão insustentável.

Quando, porém, se pergunta ainda hoje, a um típico representante dos homens de negócios, qual a finalidade de uma empresa, é provável que a resposta seja: “obter lucros”. Para o consagrado escritor Peter Drucker, a resposta não é somente falsa, como também irrelevante. Ao não incluir as demais dimensões que compõem os motivos para que uma empresa exista, comete-se grave erro de posicionamento estratégico. Se tomarmos a verdadeira natureza e objetivos de uma empresa, qual seja, a de “servir um cliente”, o lucro sempre será consequência e nunca uma finalidade. O cliente é quem determina o que é uma empresa. Somente a disposição do consumidor em pagar por um bem ou serviço é que converte os recursos econômicos em riqueza. Contudo, é no entendimento equivocado da verdadeira razão da existência de uma organização que reside a confusão e até a má vontade com o lucro. Não aprendemos nada sobre a função de um engenheiro dizendo que ele está trabalhando para ganhar a vida. Uma obra de engenharia, obviamente, extrapola em muito uma definição tão estreita.

Nessa perspectiva, uma empresa existe muito mais para prover bens e serviços aos consumidores, do que para gerar empregos ou dividendos aos acionistas, assim como um hospital também não existe em função dos médicos ou enfermeiros, mas em razão dos seus pacientes. As organizações devem estar cultural e socialmente inseridas na comunidade, sem jamais abrir mão de sua identidade original, nem permitir que a miopia sobre a sua verdadeira natureza enfraqueça a sua visão, princípios e valores.

Ao colocar o lucro como caudatário do interesse do consumidor, desaparece a ambiguidade e expande-se o papel de gestores e organizações. Isso confere à empresa sentidos de finalidade, dimensão e responsabilidade, em sintonia com o ambiente de mudanças intermitentes hoje experimentado. Se, para Milton Friedman, sobravam razões para exaltar o lucro a ponto de alçá-lo à condição suprema, vemos hoje um cenário mais inclusivo, no qual a lucratividade encontra-se inserida num contexto ético, social e economicamente mais sustentável, onde os interesses das futuras gerações devem ser levados em conta. Saber bem posicionar esse discurso, adequando-o a esse novo tempo, não trará somente um melhor entendimento sobre um dos fundamentos da administração, mas tornará a própria gestão intelectual e moralmente mais honesta.

 

 

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https://www.osul.com.br/mais-que-lucro/ Mais do que lucro 2020-10-01
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