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Brasil Massacre em São Paulo que matou 111 presos no Carandiru completa 30 anos sem prisões de PMs condenados ou desfecho na Justiça

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Mais de 110 presos foram mortos no massacre do Carandiru, que foi implodido em 2002.(Foto: Reprodução)

Ao todo, 111 mortes na memória, ninguém preso e questionamentos marcam os 30 anos do Massacre do Carandiru, neste domingo (2). Atualmente, os sobreviventes da matança carcerária de 1992, no Complexo Penitenciário do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, continuam sem algumas respostas. Entre elas estão: quando os responsáveis serão realmente punidos?

O caso ficou conhecido internacionalmente pela invasão da Polícia Militar (PM) no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, para tentar conter uma rebelião de presos. Policiais armados mataram detentos para por fim a confusão. Eles alegaram ter atirado para se defender. Mas quem sobreviveu ao banho de sangue conta o que viu e dá outra versão para a história.

Três homens que passaram anos entre os pavilhões aceitaram conversar sobre o assunto. Dois deles voltaram ao Espaço Memória Carandiru, que guarda imagens, objetos e reproduz celas no prédio do antigo Pavilhão 4. A maior parte do complexo foi implodida em 2002. Desde então há um parque no local.

O pequeno museu fica no térreo da Escola Técnica Estadual (ETEC) Parque da Juventude e foi construído em 2007. O local está sob os cuidados do Centro Paula Souza.

Com uma medalha de São Jorge no peito e vestindo uma camiseta com a estampa dos presos reunidos no pátio do Carandiru após a invasão da PM, Maurício Monteiro caminhou pelo chão do antigo prédio e relembrou o dia 2 de outubro de 1992, no Pavilhão 9.

“No dia do massacre, foi um dia normal. Não estava acontecendo nada. Simplesmente foi falado que nós não iríamos entrar para a tranca [cela], porque nós não sabemos nem o que estava acontecendo, porque os rapazes que tiveram a confusão, nem no pavilhão eles estavam mais”, lembra.

Momentos antes, houve uma briga entre os presos. Os motivos não estão claros nos autos do processo, segundo o Ministério Público (MP). A confusão entre os dois ganhou dimensões maiores.

“Na hora que eu vi os policiais da Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de elite da PM] entrando eu já falei: ‘vou morrer’. Por conta de ser um preto, grande. Eles [policiais] vieram matando. Nem todos os policiais estavam para matar, porque eu e muitos dentro da minha cela fomos salvos por um policial”, diz Maurício. “Não tinha onde se esconder, e eu fiquei atrás de um lençol. O policial veio, puxou o lençol com a arma, pôs o revólver na minha cara, engatilhou e entrou um tenente. Falou assim: ‘aqui não’. Esse tenente salvou minha vida”.

Pelada interrompida

Sentado no memorial, em meio ao cenário da porta originalmente personalizada com o primeiro versículo do terceiro capítulo do Livro de Eclesiastes, Luiz Carlos Paulino, de 55 anos, falou sobre a tragédia e o complexo, ao qual ingressou em 29 de março de 1986.

Paulino estava jogando uma pelada quando soube de uma briga no segundo andar, e todos os funcionários passaram a recolher os detentos, segundo ele.

“Começou aproximadamente 6 horas da tarde e terminou às 6 horas da manhã. Naquele momento, eu me encontrava morando no quinto andar”, recorda.

“Na minha cela, ninguém veio a perder a vida, mas passamos por momentos traumáticos que, até hoje, sobrevém ao nosso psicológico. Essa lembrança, que deixou uma cicatriz na alma. Ouvimos disparos de metralhadoras, ações dos próprios policiais pegando os estiletes dos egressos e matando à estiletada os presos que estavam sob a tutela do Estado”, detalha Luiz.

Segundo ele, a multidão de policiais chegou a combinar as mortes: “eles falaram: ‘vamos ver quem mata mais entre nós?’. Escutei isso. Aí eles matavam, davam um tiro para tudo quanto é lado”.

As investigações apontaram que 330 policiais militares participaram da incursão com 25 cavalos e 13 cachorros. A perícia identificou que os presos foram atingidos por 126 tiros nas cabeças.

“Pegavam mais negros e pessoas que tinham tatuagem de caveira e matavam, encostava na parede e matavam. Tinham pessoas que, com medo, estavam debaixo da cama, outras no banheiro, dentro da coberta. E os policiais, eles colocavam as metralhadoras e rajavam”, complementa Luiz.

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