Domingo, 06 de outubro de 2024
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 11 de setembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Nós somos iguais perante Deus e perante as leis, mas não somos iguais perante os homens.
Aristóteles introduziu na filosofia grega o pensamento de que “devemos tratar com igualdade os iguais e com desigualdade os desiguais na medida da sua desigualdade”.
Como traumatologista, tenho a honra de tratar pacientes de diversas congregações de freiras. Tenho orgulho de expor no meu consultório três estatuetas da Virgem Maria abençoadas pelos três últimos papas. São presentes de irmãs agradecidas que retornaram do Vaticano.
Nos dias de hoje, as noviças são raríssimas. Portanto, a maioria das congregações atuais é composta por freiras com idades mais avançadas. É relativamente comum que pela longevidade, pela inatividade e pela osteoporose, as irmãs venham a sofrer fratura do fêmur. Na quase totalidade das vezes estes eventos são de tratamento cirúrgico.
Há muitos anos, após queda, a irmã Sofia, de 73 anos, fraturou o fêmur e foi operada. Lembro que era um pouco rechonchuda e tímida. Afortunadamente, a cirurgia transcorreu bem, sem anormalidades.
No dia seguinte, no consultório, antes de iniciar o atendimento, fui alertado pela secretária que a madre superiora da congregação gostaria de falar comigo.
Atenciosamente ouvi a freira. Era um pedido de auxílio. A irmã Sofia ficou encabulada, constrangida e envergonhada pois um enfermeiro fez sua higienização e lhe deu banho no leito. “É possível trocar, doutor? Em toda sua vida ela nunca ficou despida perante outra pessoa, ainda mais perante um homem”.
Falei que não haveria problema em trocar por uma mulher e que no outro dia falaria a respeito com a chefia de enfermagem.
Surpreso, recebi como resposta da enfermeira que não trocaria a escala por causa de uma religiosa. “Doutor, todos somos iguais!”, disse a enfermeira. “Ela que se adapte aos novos tempos!”
Desapontado e descontente relatei a história para a direção clínica do hospital que, prontamente, interferiu em favor da irmã Sofia. Houve troca por um atendimento de uma enfermeira do sexo feminino.
Hodiernamente existe uma imposição, uma falácia, de que todos devam ser tratados com a rigidez da igualdade. Não se pode nem brincar sobre isso! Esquecemos dos diferentes comportamentos culturais, sociais e raciais.
Hoje. os de exceção se transformaram em preferenciais.
Até a meritocracia acabou! Nós não somos iguais!
A exceção virou regra e a regra virou exceção. Acabou o bom senso!
Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
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