Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 26 de setembro de 2020
Madri, com seus 6,6 milhões de habitantes, é novamente um epicentro europeu da pandemia de coronavírus. A cirurgiã Ángela Hernández, vice-presidente do sindicato AMYTS, que representa médicos e agentes de saúde, sabe exatamente o porquê: “Faltam equipes médicas em todos os lugares.”
“Só no dia 22 de setembro, cerca de 3 mil pessoas foram internadas nos hospitais de Madri. Cerca de 400, em unidades de terapia intensiva. Estamos no limite”, conta a médica.
A nova crise escancara deficiências persistentes. Testes para detectar o vírus não são oferecidos em aeroportos do país. Eles são feitos apenas em unidades de atenção básica – e apenas em casos suspeitos. Tudo isso porque não há laboratórios suficientes.
A frustração entre os madrilenos é grande, até porque eles realmente estão aderindo às regras de distanciamento de forma disciplinada, incluindo a exigência de máscara.
“É compreensível que ninguém esperasse a pandemia em março. Mas o fato de os políticos não terem aprendido nada é decepcionante”, diz Hernández, que é mãe de três filhos. Ela não se cansa de reclamar de como os profissionais de saúde são mal remunerados na maioria das 17 regiões autônomas da Espanha.
O cálculo da capacidade excedente
Esse cenário também ocorre porque os cidadãos não contribuem muito em termos financeiros. Pelas regras do país, todos os habitantes têm de pagar pelo sistema de saúde público, mas os valores são pequenos em comparação com a Alemanha, por exemplo.
Para os autônomos, a contribuição ronda os 300 euros mensais (R$ 1.900), mas o valor também cobre a aposentadoria. “O sistema de saúde espanhol é rigorosamente calculado e projetado para que doenças graves sejam rapidamente identificadas e tratadas. Não sobram recursos para prevenção e reabilitação”, afirma o especialista em saúde Alberto Giménez, chefe da Fundação Economia e Saúde em Madri.
Além disso, na Espanha, e especialmente em Madri, a população se concentra em um espaço limitado. “Muitas pessoas dividem apartamentos pequenos com outras porque os aluguéis são caros. É assim que elas acabam se infectando”, diz Hernández, explicando o atual alto número de infecções em áreas da classe trabalhadora, como Carabanchel, um distrito no sul da capital espanhola.
A isso se soma o fato de o encaminhamento para um especialista ser feito por meio de postos de saúde. Eles atuam como filtros para que os hospitais não fiquem sobrecarregados. Por serem considerados atualmente uma fonte primária de infecção, esses postos diminuíram a oferta de consultas presenciais, o que por sua vez tem feito com que muitas doenças não sejam diagnosticadas. “Há uma longa lista de operações que ainda estão pendentes”, relata Hernández. Os danos colaterais da pandemia serão, portanto, particularmente altos na Espanha nos próximos meses.
Espanha x Alemanha
Considerando a baixa capacidade de aprendizado entre a classe política espanhola, fica a impressão de que os aplausos diários entre março e abril para médicos e enfermeiros que partiam das pessoas em isolamento não tiveram nenhum efeito. “Todos nós temos que pagar mais para que isso funcione também na pandemia”, diz Hernández.
A Alemanha tem uma clara vantagem durante a pandemia, porque o país tem excesso de capacidade hospitalar e um sistema comparativamente ineficiente. O que era um problema antes da pandemia, agora é uma vantagem. A Alemanha tem cerca de 34 leitos de UTI por 100 mil habitantes, enquanto a Espanha tem pouco menos de dez. Enquanto no norte da Europa os hospitais são menores e mais bem distribuídos entre os habitantes, na Espanha eles estão concentrados nas grandes cidades – e falta oferta nas zonas rurais.
Ainda assim, o sistema espanhol funcionava melhor do que o alemão antes da pandemia. A Espanha tem a segunda maior expectativa de vida do mundo, depois do Japão. Madri e Barcelona também são polos de pesquisa médica. O país tem vários hospitais internacionais de primeira linha. E tudo isso a um custo não muito elevado.