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Por Redação O Sul | 25 de junho de 2020
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), das sete candidatas a vacina contra o coronavírus que estão atualmente na segunda fase de testes, três estão sendo desenvolvidas por empresas chinesas e duas por empresas ou instituições de pesquisa americanas.
A Casa Branca planeja gastar 10 bilhões de dólares (51,7 bilhões de reais) na testagem, fabricação e compra de uma ou mais vacinas. Por meio da chamada Operação Velocidade Warp, pelo menos 300 milhões de doses de vacina deverão estar disponíveis até janeiro de 2021. Seis empresas farmacêuticas americanas estão envolvidas nesse processo, além do grupo sueco-britânico AstraZeneca.
Conduzida pelo Departamento de Saúde dos EUA, a operação é liderada pelo general americano Gustave Perna. Em audiência no Senado americano, na semana passada, ele disse estar disposto a “trabalhar com qualquer país que ofereça informações ou cooperação no desenvolvimento de vacinas ou medicamentos”. Mas o militar deixou claro que a China não é um deles.
Medo de hackers
A farmacêutica Moderna, de Massachusetts, foi a primeira empresa a iniciar já em março testes clínicos em voluntários e anunciou resultados preliminares positivos em meados de maio. Em julho, segundo a empresa, já se poderia iniciar a produção.
Uma semana após o anúncio do sucesso da Moderna, o FBI e a agência de defesa cibernética americana (Cisa) alertaram para ataques de hackers de Pequim, com o objetivo de obter resultados de pesquisas americanas com uma vacina contra o coronavírus.
O senador Rick Perry repetiu essas alegações para a emissora BBC. Uma porta-voz do Ministério do Exterior chinês reagiu da seguinte forma: “Ele deve fornecer, por favor, provas de que a China está sabotando os esforços ocidentais para desenvolver uma vacina. Ele não precisa se sentir intimidado de forma alguma.”
David Fidler, do think tank Conselho de Relações Exteriores, disse não ter dúvidas de que “a China e outros países estejam tentando obter informações sobre atividades de instituições americanas relacionadas à pandemia, incluindo o desenvolvimento de uma vacina.”
Ele também afirmou que não ficaria surpreso se os EUA, por sua vez, praticassem espionagem cibernética contra atividades de pesquisa chinesas.
Solidariedade x interesse
A China, onde o vírus apareceu pela primeira vez, foi o primeiro país a publicar a sequência do genoma do patógeno, em janeiro último. O país descreveu o desenvolvimento de uma vacina como uma “luta decidida” que está travando “lado a lado” com o mundo inteiro.
Em março, a empresa chinesa CanSino, em cooperação com a Academia Chinesa de Ciências Militares, anunciou resultados preliminares positivos no teste de sua candidata à vacina na primeira fase. Atualmente, 500 voluntários num hospital em Wuhan estão participando dos testes na segunda fase. Na semana passada, a empresa SinoVac também relatou resultados promissores após o teste de vacinação de 743 indivíduos.
Outros concorrentes
Mas os Estados Unidos e a China não são os únicos países em que se empreendem pesquisas com vista a uma vacina. Embora os dois rivais não cooperem entre si, eles o fazem com outros países. Portanto, o componente geopolítico da busca por uma vacina pode ser menos significativo do que sugere a disputa midiática entre Pequim e Washington.
Atualmente, cerca de 120 candidatas a vacinas estão sendo testadas, inclusive na Alemanha, onde a empresa Curevac de Tübingen iniciou a primeira fase de teste de seu produto (hyperlink). O governo alemão comprou uma participação da empresa no valor de 300 milhões de euros, depois que o governo dos EUA também havia mostrado interesse na Curevac.
“Dado o grande número de projetos de desenvolvimento de vacinas em diferentes países e continentes, não esperamos conflitos globais de distribuição”, disse Han Steutel, presidente da Associação de Empresas de Pesquisa Farmacêutica da Alemanha (vfa). “Somos antes da opinião de que as vacinações podem ser iniciadas mais ou menos simultaneamente em vários países”.
A candidata da empresa farmacêutica sueco-britânica Astrazeneca foi desenvolvida em colaboração com a Universidade de Oxford. Os estudos clínicos estão sendo realizados no Brasil (hyperlink). No início de junho, a AstraZeneca contratou os serviços do fabricante Instituto do Soro da Índia para a produção de um bilhão de doses de vacina destinadas a países em desenvolvimento. Até o final de 2020, 40% dessa quantidade deverá estar disponível, desde que a vacina seja eficaz e segura.