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Ricardo Lobo Por que é tão difícil vencer a ansiedade

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Empreendedores de pequeno, médio ou grande porte, pouco importa o tamanho. Fato é que, no mundo empresarial, todos, em algum momento de suas jornadas, já escutaram o famoso conselho: “foque naquilo que você tem controle!”. Mas por que, apesar de ser algo dito há mais de dois mil anos, que nos remete à época de filósofos como Sêneca, Epicteto, Platão e Aristóteles, e ser de fácil entendimento, é também algo tão difícil de colocar em prática? Por que, apesar da simplicidade do conselho, uma fala atemporal, que se repete a cada nova geração, nossa produtividade e nosso bem-estar, seja físico ou emocional, em muitos momentos são afetados por fatores como excesso de medo, preocupação, ansiedade, stress e insegurança?

Quando ouvimos que devemos focar e direcionar nossa energia para aquilo que está ao nosso alcance, é extremamente simples compreender aquilo que temos controle, basta, para isso, fazer uso de nossa capacidade intelectual e racional. Ora, controlamos nossas próprias palavras, nossas próprias ações, nossas próprias decisões, nossos próprios esforços, e, por óbvio, não temos nenhum controle sobre tudo o que estiver fora e for diferente disso. Mas por que, mais uma vez, é tão difícil focar de forma exclusiva naquilo que cabe única e tão somente a nós mesmos, garantindo, com isso, ao adotar tal postura, uma vida com um pouco mais de equilíbrio emocional e paz de espírito?

Para responder a tais perguntas, precisamos retornar à origem da psicologia, mais precisamente da psicanálise, uma das abordagens terapêuticas mais utilizadas no Brasil e no mundo, relembrando dois famosos conceitos, intitulados como ‘Eu Ideal’ e ‘Eu Real’. Talvez você nunca tenha ouvido ou lido nada sobre o assunto, e é claro que o meu intuito não é fazer nenhum tipo de apresentação teórica e/ou conceitual. De forma simples, no entanto, o que precisa ficar claro é que todos nós temos, internamente, uma idealização a respeito das coisas. Por exemplo, quando empreendemos, o que temos como ‘ideal’? Que o negócio se estabeleça, possa se tornar sólido e próspero, de preferência escalável para que renda cada vez mais frutos financeiros, e daí por diante. Ainda, para não ficar direcionado apenas para a realidade e o contexto empresarial, temos diversas idealizações a respeito da vida. Idealizamos, por exemplo, pensando em uma circunstância de ordem mais íntima e pessoal, construir um relacionamento saudável e feliz, de preferência sem brigas. Isso tudo é, portanto, o que chamamos de ‘Eu Ideal’.

Porém, perceba que, para o sucesso de ambos os objetivos descritos acima, ou seja, para a estruturação e a solidificação de uma empresa bem sucedida, ou para a construção de um relacionamento saudável, com poucas brigas, não apenas nossos esforços são determinantes. Existem outras pessoas e outras circunstâncias envolvidas. E justamente a realidade como é, como de fato se apresenta, e não como gostaríamos que fosse, é o que chamamos de ‘Eu Real’. Em palavras mais simples, tais conceitos nos remetem à ideia de expectativa e realidade, que nem sempre coincidem.

Neste momento, talvez você esteja se perguntando: “ok, entendi os conceitos, mas o que isso tudo tem a ver com a ansiedade e os demais temas colocados no início do texto?”. Bem, o difícil não é, repetindo novamente, compreendermos aquilo que temos ou não temos controle, uma vez que não há entre nós uma dificuldade intelectual. A dificuldade reside, por outro lado, em aceitarmos, verdadeiramente, que, muitas vezes, há na vida uma enorme distância entre idealização e realidade, pois, mesmo racionalmente sabendo que o resultado das coisas não depende apenas daquilo que fazemos, de nossos próprios esforços, rejeitamos mental e emocionalmente a ideia de que as coisas podem ser diferentes de nossas expectativas. Isso fere nosso ‘Eu Ideal’, e, na prática, fere nosso ego, nossa autoestima, nosso próprio senso de valor acerca de nós mesmos.

É este apego ao ‘Eu Ideal’, que é algo que muitas vezes acontece de forma totalmente involuntária e inconsciente, que, na prática, faz com que, mesmo sendo pessoas dotadas de alta capacidade intelectual, passemos a tentar controlar aquilo que está fora de nosso alcance. E, como isso acaba sendo irrealizável, inalcançável, qual a consequência? Ansiedade, insegurança, stress, medo e preocupação.

Portanto, quando alguém apresenta dificuldades em lidar com a própria ansiedade, não basta dizer a esta pessoa “foque naquilo que você tem controle!”. Se fosse dessa forma, e a solução estivesse nesse simples conselho, mais do que a ansiedade, haveria um problema de ordem intelectual, pois, como vimos, é algo extremamente fácil e simples de entender. Por isso, a forma de se amenizar e gerenciar melhor a ansiedade, e, consequentemente, os medos, a insegurança, a preocupação e o stress no dia a dia é justamente buscando reduzir a distância entre os dois mundos, ou seja, entre o ‘Eu Ideal’ e o ‘Eu Real’.

O ‘Eu Real’, ou seja, a realidade, pode mudar a todo instante, e não depende apenas de nós mesmos. Já o ‘Eu Ideal’, esse sim, depende apenas de nós mesmos, e é nosso dever saber lidar melhor com a autocobrança e com a própria autoexigência. Seja na vida pessoal ou profissional, quanto mais nos cobramos, quanto mais nos exigimos, e, em contrapartida, mais a vida nos presenteia ou nos surpreende com uma realidade diferente do planejado, maior nossa ansiedade, nossa frustração, nossa insegurança e etc.

Nesse sentido, para gerenciar melhor a ansiedade no dia a dia, obtendo um pouco mais de paz de espírito, é necessário melhorar nossa relação com nós mesmos, ou seja, se tornar um pouco menos rígidos, aceitar as próprias falhas e vulnerabilidades, encarar os erros como oportunidades de melhoria e crescimento, e não como fracassos, e daí por diante. Parece simples, não é mesmo? Mas a verdade é que esse é um trabalho complexo, que exige empenho, foco, entrega, determinação, comprometimento. Muitas vezes, em praticamente todas, para ser mais sincero, é necessário buscar um suporte terapêutico, a fim de analisar a própria história, se conhecer de verdade, entender de onde vêm determinados padrões de comportamento e também de pensamento. Em muitos casos, não nos cobramos porque queremos ou gostamos de nos cobrar, mas sim pela forma como fomos criados, pelos exemplos que tivemos ao longo da vida, ou mesmo pelas pessoas que mais influenciaram na formação de nossa personalidade.

Fato é que a distância entre idealização e realidade sempre existiu, e sempre vai existir. Porém, como tudo na vida, precisamos de tempo, e treino, para lidar com tudo isso de uma forma mais natural e equilibrada, até porque, quando atingimos este patamar, e nos tornamos internamente mais leves, os resultados externos tendem a aparecer com mais força e volume.

Não basta você usar o intelecto para “focar naquilo que você tem controle”. De forma ainda mais direta, se você não percebe suas falhas, não se dedica ao autoconhecimento ou não analisa seriamente seus valores, você está, de fato, inconsciente de tudo isso, e pouco ou nenhum progresso será possível. Sendo assim, lembre-se que você é muito mais do que um corpo físico, um corpo externo. E, se você deseja viver uma vida saudável, com menos impacto da ansiedade e dos demais temas subjacentes, comece cuidando do seu mundo interno, valorizando sua saúde mental e emocional.

Ricardo Lobo – Federasul – Divisão Jovem

Psicanalista Clínico, pós graduando em Psicanálise e em Psicologia do Esporte, especialista no atendimento do público jovem e adulto; @ricardolobopsicanalista

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