Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2022
Pesquisadores da Fiocruz Bahia analisaram biomarcadores sanguíneos para entender as causas do agravamento da covid em pacientes com a pré-diabetes mellitus. Foi percebida uma associação entre os níveis da citocina interleucina-6 (IL-6) e o desenvolvimento de casos graves da doença. Também se constatou que os pacientes não apresentam grandes sequelas após três meses de recuperação. Liderado pelas pesquisadoras Natália Machado e Viviane Boaventura, o estudo foi publicado na revista Frontiers in Endocrinology.
A pesquisa comparou os biomarcadores sanguíneos de pacientes com pré-diabetes e pacientes sem pré-diabetes durante a fase mais grave da infecção e três meses após a hospitalização. Foi notado que pacientes pré-diabéticos necessitaram de maior tempo de hospitalização, com uma média de 15 dias comparada a média de 8 dias dos pacientes sem pré-diabetes. Indivíduos pré-diabéticos que requeriram cuidados intensivos chegaram a 78% dos casos, em comparação com 56% dos pacientes sem pré-diabetes que necessitaram dos mesmos cuidados. Além disso, pré-diabéticos também apresentaram maior grau de lesão pulmonar.
Foi encontrada uma relação entre esses casos mais graves e os níveis de IL-6. Esse fator, associado com a redução da oxigenação no sangue, achava-se elevado em 63% dos quadros de pré-diabetes, mas não haviam grandes alterações em outros biomarcadores, como o TNF – Alfa e o Leucotrieno B4. Através desta observação, os pesquisadores entenderam que altos níveis de IL-6 podem ser um fator relevante para o agravamento da covid.
Também foram investigados os impactos da doença em pacientes pré-diabéticos após três meses. Através do exame do nível de qualidade de vida e de sintomas residuais, não foram constatadas diferenças significativas nos parâmetros laboratoriais no período de três meses após a fase aguda da doença, nem grandes mudanças nos sintomas residuais entre pacientes com e sem pré-diabetes.
O mesmo grupo de trabalho já produziu outra pesquisa, analisando a interação do Leucotrieno B4 no agravo de casos de covid em pessoas com diabetes.
Provável vínculo
O endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, chama a atenção para outras possíveis explicações do provável vínculo entre covid e diabetes.
“Além da própria inflamação da covid levar a um aumento da resistência à insulina, o tratamento dos casos graves da infecção envolve o uso de corticoides, medicamentos anti-inflamatórios que aumentam o risco de diabetes”, lembra.
“Existe também uma possibilidade de o coronavírus agredir diretamente o pâncreas, mas isso ainda não passa de uma especulação. Por mais que o mecanismo exato ainda não seja conhecido, sabemos muito bem que o Sars-CoV-2, o causador da covid, está longe de ser um vírus que afeta apenas o sistema respiratório”, completa o especialista.
Doença silenciosa
O diabetes é uma doença silenciosa, em que os sintomas típicos (sede excessiva, muita vontade de fazer xixi, perda de peso…) são muito sutis ou só dão as caras numa fase mais avançada.
Se o diagnóstico for confirmado, o tratamento do diabetes segue o que os endocrinologistas costumam prescrever para os casos em que não há relação com covid. Cabe a cada profissional identificar se é diabetes do tipo 1 ou 2 e indicar as terapias para controlar o quadro.
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, em que células do próprio corpo atacam o pâncreas, que sofre para fabricar a insulina.
Já o tipo 2 começa com a resistência à insulina: o hormônio está lá, mas não consegue mais botar a glicose para dentro das células. Conforme o quadro progride, pode haver também uma exaustão do próprio pâncreas.