Segunda-feira, 07 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2021
Os militares do Sudão libertaram da prisão domiciliar e reconduziram ao cargo neste domingo (21) o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, que havia sido deposto por eles no final de outubro. No entanto, a principal coalizão de organizações civis do país, as Forças de Liberdade e Mudança (FLM), afirmou que não vai aceitar um acordo com os golpistas e que os protestos pela democracia no país do Norte da África vão continuar.
Pelo acordo assinado entre Hamdok e o chefe das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Burhan, o premiê vai liderar um governo de tecnocratas até a realização de eleições, no mais tardar em julho de 2023. Pelo acordo, os militares também prometeram libertar todos as pessoas presas durante as últimas semanas de protestos. Em entrevista à Al Jazeera, Hamdok disse que terá liberdade para escolher seus ministros.
No entanto, após a cerimônia de recondução do premiê, milhares de pessoas saíram às ruas na capital, Cartum, na vizinha Ondurmã e em outras cidades, pedindo um novo governo sem a tutela dos militares. Em Cartum, a marcha foi reprimida com bombas de gás lacrimogêneo, e um jovem de 16 anos foi morto com um tiro na cabeça em Ondurmã, a 41ª pessoa morta nas manifestações contra o golpe, segundo a Comissão Central de Médicos Sudaneses.
O golpe liderado por al-Burhan em 25 de outubro pôs fim a um incipiente processo de transição democrática que fora iniciado com a queda do ditador Omar al-Bashir, em 2019. Desde então, o país era governado por um Conselho Supremo de Transição, no qual Hamdok compartilhava o poder com os militares. Depois do golpe, as Forças de Liberdade e Mudança, que faziam parte do Conselho de Transição, passaram a pedir um governo totalmente civil.
Depois do acordo com o general al-Burhan, Hamdok tornou-se o vilão para alguns manifestantes, que gritavam que ele “vendeu a revolução”. A Associação de Profissionais do Sudão, outro grupo importante na organização dos protestos, chamou Hamdok de “traiçoeiro”.
“Hamdok nos decepcionou. Nossa única opção é a rua”, disse Omar Ibrahim, um jovem de 26 anos que protestava em Cartum.
O primeiro-ministro, por sua vez, disse que concordou com o acordo para evitar mais vítimas: “O sangue sudanês é precioso. Vamos parar de derramá-lo e direcionar a energia dos jovens para a construção e o desenvolvimento”, disse ele na cerimônia de assinatura do acordo, transmitida pela televisão estatal.
Burhan afirmou que o acordo seria inclusivo: “Não queremos excluir ninguém, exceto, como combinamos, o Partido do Congresso Nacional”, disse ele, referindo-se ao antigo partido de Bashir.
As Forças de Liberdade e Mudança, que não foram mencionadas no acordo, anunciaram que não vão reconhecê-lo. O Partido do Congresso Sudanês (PCS), que é parte da coalizão civil e tem vários líderes presos, chamou de “ilegítima e inconstitucional” a adesão de Hamdok.
O acordo foi anunciado sob intensa pressão internacional, depois que os Estados Unidos e países europeus suspenderam a ajuda ao Sudão, que tenta se recuperar de uma grave crise econômica. A ONU saudou o acerto, mas disse que todos os lados precisam “tratar urgentemente de questões não resolvidas para completar a transição política de uma maneira inclusiva, com respeito aos direitos humanos e ao Estado de direito”. As informações são da agência de notícias Reuters.