Sexta-feira, 06 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 3 de janeiro de 2016
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Os eleitores em todo o País irão às urnas a 2 de outubro deste ano para a escolha de 5 mil e 561 prefeitos. Considerando a média de quatro candidatos por municípios, serão mais de 22 mil pretendentes. Nenhum com a plataforma que Vinicius de Moraes expôs em sua coluna do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, a 5 de janeiro de 1966. O trecho inicial com bom humor e deboche:
“Eu nunca serei Prefeito em minha vida, mas se fosse revolucionaria todos os métodos de administrar uma cidade. Tenho a dizer, em primeiro lugar, que só aceitaria ser Prefeito do meu Rio de Janeiro e, nesse particular, deixaria todos os outros no chinelo. Para início de conversa, instalar-me-ia no Jardim Botânico e meu chefe de gabinete seria Ciro Monteiro, que trabalharia com uma pira ardente ao seu lado, no qual seriam sumariamente queimados todos os processos que dessem entrada sem a notificação de “Poético”. Minhas funcionárias seriam selecionadas segundo os mais altos padrões de beleza (nada desses concursinhos que andam por aí…) e seriam obrigadas a ter sobre a mesa de trabalho um pequeno toca-discos para ouvir música durante o labor do dia. Minhas salas teriam quadros de Guignard e Di Cavalcanti e eu daria minhas audiências ao ar livre, só aceitando pedidos feitos por escrito, e em forma poética ou em pauta musical, sob a forma de canção.”
Segue Vinícius:
“Ah, eu faria meu povo feliz… Às cinco da tarde, hora da saída do trabalho, mandava ligar todos os alto-falantes instalados em todas as árvores da cidade para que a população pudesse ouvir os pássaros urbanos e daí por diante tornava o namoro obrigatório. Homem sozinho vagabundeando na rua – morou a folga? – era encanado sumariamente e levado para determinados parques onde se concentrariam as moças doentes de solidão.”
Finaliza:
“Eu seria um grande alcaide, capaz de prolongar nossa pobre Primavera de mais um ou dois meses, graças a adubos especialmente fornecidos pela Aliança para o Progresso; capaz também de encher a cidade de sorrisos de mulheres grávidas. E quando eu passasse, as pessoas me cumprimentariam alegremente e eu seria chamado de bom prefeito.”
O poeta era fogo!
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