Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2020
Em diversos shoppings do Brasil não foi diferente: filas enormes de consumidores se formaram, esperando a liberação da entrada. Esse comportamento pode ser explicado pelo chamado “consumo de vingança”, comum após guerras, crises e pandemias.
O conceito de “consumo de vingança”, no termo em inglês revenge spending, surgiu nos anos de 1980 para explicar o desejo de recompensa emocional após um longo período de sacrifícios e situações desconfortáveis. E quanto maior for o tempo penoso, maior será a necessidade de criar satisfação por meio das compras. No entanto, o que por um lado pode ser uma oportunidade de recuperação, a gastança sem freios pode representar endividamento para o consumidor.
Para a economista e coordenadora dos mestrados em Ciências Contábeis do Ibmec, Ana Beatriz Mello, por trás do consumo desenfreado, existem a falta de educação financeira e um problema comportamental.
“É como se a pessoa tentasse dar o troco, usando recursos financeiros. É fundamental que amigos e familiares percebam esse comportamento e tentem alertar o consumidor sobre os riscos. Uma consumidora de 35 anos, que prefere não se identificar, conta que gastou mais de R$ 2 mil em roupas e cosméticos, e só deu uma pausa nas compras após ser alertada”, disse.
“A vontade de adquirir os produtos e aproveitar o período que estava em casa para aprimorar a rotina de cuidados e de skincare me motivou a comprar. Mas me arrependi um pouco porque, enquanto muitas pessoas economizaram dinheiro, eu gastei com coisas que, na verdade, são desnecessárias”, contou.
O advogado Denner Pires, especialista em Direito do Consumidor, lembra que, em compras presenciais, não há direito de arrependimento. Por isso, é preciso pensar duas vezes antes de fazer a aquisição.
“Para compras online, há sete dias para desistir, o que pode ser feito sem justificativa. Já nas presenciais, o cliente só vai poder acionar a loja quando o produto apresentar defeito”, esclarece Pires. “Se não arrumarem em 30 dias, ele pode pedir o dinheiro de volta.”
Impulso também na internet
Diferentemente de outras ondas de “consumo por vingança”, dessa vez, as pessoas não precisaram esperar as lojas abrirem para procurar recompensa nas compras. O especialista em Direito do Consumidor Denner Pires lembra que, desde o início da pandemia, as compras online aumentaram consideravelmente: “Com restrição em fazer suas atividades do cotidiano, as pessoas passaram a usar a tecnologia para fazer compras e sentir uma breve felicidade”.
De acordo com o indicador de preços do varejo online (MCC-ENET), apenas em junho, as vendas pela internet de materiais de escritório, informática e comunicação cresceram 40,4%; as de móveis e eletrodomésticos, 23,7%; e as de roupas, calçados e tecidos, 13,1%. O mês de maio foi o que apresentou a maior variação positiva nas transações virtuais, em comparação ao mesmo período do ano anterior, com aumento de 137,35%.
O analista de relacionamento com cliente Mauricio Daniel Santos, de 30 anos, conta que gastou mais de R$ 4 mil em compras online desde o início da pandemia.
“Comprei tênis, sungas, uma mesa para trabalhar, blusas, óculos, aparelhos para fazer exercício em casa e um celular. Cada hora era um item diferente chegando. Virei até amigo do carteiro”, disse o consumidor, que completou: “Acabei comprando muitas coisas por que estavam com preços bacanas, e eu não estava tendo gastos habituais com transporte, por exemplo”.
Dicas para escapar das compras por impulso
1- Cuidado ao considerar que tudo voltou ao normal: por mais que o governo tenha afrouxado a quarentena, é preciso entender que o vírus ainda está circulando, e as pessoas ainda estão morrendo. Isso quer dizer que as coisas não estão como antes, e é necessário tomar cuidado com o movimento de ir ao shopping para fazer compras, por exemplo.
2 – Invista apenas no necessário: mesmo que a vontade de sair comprando seja grande, pense no que você realmente precisa e tome cuidado para não consumir mais do que o necessário.
3 – Tenha controle sobre seus gastos: pode até ser chato, mas anotar cada compra é uma maneira de ter um panorama geral de como pequenos custos podem se tornar uma bola de neve no fim do mês. Não é preciso nenhuma planilha, você pode pegar um caderninho e ir anotando diariamente custos, entradas e retiradas.
4 – Reduza o limite do cartão: essa é uma ótima alternativa para quem não consegue se controlar. Ligue para seu banco e peça a mudança.
5 – Verifique sua fatura ao longo do mês: muitas pessoas têm o hábito de só saber o valor da fatura do cartão de crédito no fim do mês, quando recebem a correspondência. No entanto, checar no próprio aplicativo do banco é uma forma de controlar suas despesas.
6 – Coloque uma meta de consumo: estabeleça o objetivo de reduzir pelo menos 20% da fatura ou estipule um valor máximo de consumo no cartão de crédito. É importante incluir assinaturas e parcelamentos feitos em outros meses nessa conta.
7 – Reduza as idas aos shoppings: se você sair menos, evita o chamado gasto de oportunidade: por exemplo, quando passa em frente a uma vitrine, se apaixona por uma blusa e compra, mesmo sem ter planejado.
8 – Saia acompanhado: convide um amigo ou um parente para te alertar quando a compra é por impulso.
9 – Arranje espaço em casa: às vezes, vários itens comprados por impulso ficam esquecidos no canto da casa, sem uso. Antes de comprar algo novo, verifique se já não tem produto semelhante em casa. Outra opção é tentar vender aquilo que já não usa mais, antes de fazer uma nova aquisição.
10 – Reforme o que tem em casa: antes de comprar alguma roupa ou algum móvel novo, pense se há formas de mudar a cara ou dar uma nova utilidade para objetos que tem em casa. Há vídeos e tutoriais na internet sobre o assunto.