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Cláudia Fam Carvalho Rio Grande do Sul no tatame

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Em dois estados, no Paraná e no Ceará, o índice de prevalência da mutação E484K superou os 70% nas amostras. (Foto: Reprodução)

Parece um pesadelo o que estamos vivendo exatamente um ano após a anunciação da tragédia do coronavírus. Durante 12 meses experimentamos a tristeza de conviver com o risco de uma nova doença grave e, a meu ver, pior ainda, a dor de ter se submeter a todas as medidas restritivas tomadas pelos governantes, alegadamente chamadas de medidas de enfrentamento ao coronavírus.

A morte, entendo. Ou, pelo menos, acredito que sim, muitas são as doenças e circunstâncias que nos conduzem a ela. Já perdi parentes, amigos e pacientes. Sei que não há barganha, nos resta apenas sofrer e aceitar. O que não consigo entender é a lógica de tais medidas de mitigação, totalmente arbitrárias, autoritárias e ditatoriais.

Após o impacto inicial de fevereiro e março de 2020 que assustou a maioria de nós, ou, mais ainda, assustou o mundo e deixou a todos paralisados, no máximo em abril de 2020 já se dava para perceber que no Brasil e, sobretudo no Rio Grande do Sul, as medidas tomadas estavam equivocadas. Mini flashBack: comércio fechado, escolas fechadas e hospitais vazios ou com número pequeno de pacientes com coronavírus, profissionais de saúde demitidos, propaganda contra medicações em investigação com possível potencial benefício na infecção, abuso de autoridade de governadores e prefeitos, assim como do STF, restrição de liberdade, pessoas sendo presas por estarem na rua, dentre outros. Acho que eu poderia ficar até amanhã aqui listando.

Durante um ano inteiro, governantes, secretários de saúde do nosso estado e município e demais autoridades de saúde propagaram o medo, estimularam a culpa, restringiram liberdades e criaram um verdadeiro caos social. O impacto na saúde mental e na economia, digo, na renda das pessoas em geral, foi astronômico.

E de que valeu? O que essas medidas evitaram?

Nada. Absolutamente nada. Um ano depois estamos no pior momento da pandemia.

A doença seguiu seu curso. Durante alguns meses se manteve estável, com a nossa estrutura de saúde absorvendo muito bem a demanda e com leitos de sobra, inclusive, graças ao aumento do número de leito que foi realizado com dinheiro federal e pela iniciativa privada.

Essa talvez tenha sido a única medida realmente efetiva realizada, diga-se de passagem.

Não houve mudança substancial no número de casos com reabertura do comércio, festividades de Natal ou Ano Novo, nem com escolas funcionando.

Porém, agora o sistema de saúde está falhando, devido ao aumento do número de casos, gravidade dos casos, uma mudança na apresentação clínica da doença, e quem lê e assiste os jornais já se deparou com a verdadeira tragédia relatada por médicos da linha de frente, muito diferente dos 12 meses anteriores, provavelmente por ser uma doença diferente daquela de 2020.

Não se tem certeza, mas muitos motivos fazem crer que a piora observada em diversas partes do Brasil se deve a variante P1, a variante de Manaus.

Vale lembrar que há cerca de 20 dias, governadores de 20 estados brasileiros, de forma solidária, importaram a variante para seus respectivos estados, trazendo doentes com aviões da FAB.

Mais uma ‘fantástica’ medida, também equivocada. Esses dias um extraordinário colega médico comentou em um grupo que participo: “Isolam os saudáveis em casa e fazem circular os doentes”. Os governadores que resolveram fazer isso só podem estar sendo assessorados por gênios da epidemiologia. Não há dúvidas.

O mundo inteiro tentando evitar viagens e deslocamento do vírus e, incrivelmente, no Brasil, no local de ocorrência da variante, sabidamente mais contagiosa, autoridades arrecadam justamente os doentes e pulverizam suas secreções por todo o Brasil? A solidariedade poderia ter sido demonstrada de outra forma, de forma a salvaguardar um número enorme de pessoas, que também são dignas de solidariedade e cuidado.

É claro que seria difícil conter a variante em uma só região do Brasil, mesmo que tal medida não tivesse sido tomada, mas certamente o vírus não viajaria nesse ritmo e uma alternativa teria sido testar todos os viajantes vindos dessas regiões, rastrear contatos e restringi-los em casa por um período de 14 dias em caso de confirmação de casos de covid. Essas medidas seriam bem mais inteligentes, por sinal, medidas adotadas na Alemanha com pessoas com testes positivos para a doença.

Mas até aí, vá lá.

Agora vem a gota d’água: nosso Excelentíssimo Sr. Governador resolve colocar todo o estado em bandeira preta, fechar todo o comércio e escolas novamente, a exceção de educação infantil e 1 e 2 séries. Segundo ele, age com base científica e justifica essa parada como forma de dar um “golpe” no vírus. Ora um “golpe no vírus”, suas palavras me remeteram a sua imagem dando um “hippon” no corona espinhoso. Ele só pode ter feito judô na infância, não tão distante, para ter uma ideia dessa.

Só nos resta encontrar a referência científica ou empírica, em qual lugar do mundo alguém conseguiu dar um golpe no vírus até o momento com lockdown?

Essa é a pá de cal para aniquilar empresários, empregadores, empregados trabalhadores, famílias e crianças.

Por favor, alguém avise o Sr. Governador que não são essas as atividades responsáveis pelo aumento de casos, pelo contrário, essas se dão em locais onde há o máximo de cuidado, limpeza, proteção e vigilância. São atividades vitais para qualquer sociedade, que geram saúde, a medida que proporcionam a possibilidade das pessoas morarem, comerem, crescerem e aprenderem.

O contágio se dá em ambientes menos controlados, o que inevitavelmente irá acontecer com o fechamento de tudo que é público. No privado cada um faz o que quer.

No momento, é mais do que óbvio que o vírus deve ser atacado com vacinas, medicamentos, leitos hospitalares, leitos de UTI, com cuidados de higiene respiratória, e também é óbvio que a sociedade precisa seguir funcionando, já que teremos que conviver com ele e suas variantes por um bom tempo ainda, quiçá para sempre.

Então, amigos, o caos está instaurado nos hospitais, com pacientes agonizando, e também na sociedade em geral, mesmo nos 95% que ainda não tiveram a covid, que também sufocam e se asfixiam com os ultrajes das medidas adotadas. Com tristeza, lamento muito toda essa tragédia: brincando com mapas e cores, Dudu deu o golpe no Rio Grande que agora está estatelado no tatame.

Cláudia Fam Carvalho – Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta

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