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Geral Saiba por que o Rio Grande do Sul está tão exposto às catástrofes

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Ainda não se sabe a dimensão da tragédia provocada pelas inundações históricas no Estado. (Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini)

Ainda não se sabe a dimensão da tragédia provocada pelas inundações históricas que começaram na região central do Rio Grande do Sul no início da última semana, que chegaram à capital, Porto Alegre, e a diversas outras áreas do Estado. Equipes de resgate não conseguiram adentrar muitos dos locais atingidos, afirma a Defesa Civil estadual.

Nos últimos dias, metade da chuva prevista para todo o ano de 2024 caiu no estado, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Para quem atua no monitoramento da situação, a perplexidade e o cansaço pelas horas ininterruptas de trabalho são grandes.

“Estamos ainda sem acreditar no volume de chuvas registrado. Nós pensamos até, inicialmente, que nossos equipamentos estavam com defeito”, resume Franco Buffon, superintendente da região Sul do SGB.

A situação é considerada tão grave que, mesmo se não chovesse mais nos próximos dias, o quadro seguiria muito dramático. A previsão é que mais chuvas atinjam a região.

Em Porto Alegre, o nível do Lago Guaíba atingiu marca recorde, ultrapassando 5 metros nesse sábado (4), superando a cheia histórica de 1941. Naquele ano, a água atingiu a marca de 4,76 metros e deixou 25% da população da cidade desabrigada.

O Guaíba, que até cruzar a capital é chamado de Rio Jacuí, recebe toda a água que cai no centro do estado. Porto Alegre é a última cidade do percurso até o seu deságue no Atlântico.

Marcelo Seluchi, coordenador do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, Cemaden, diz que a semana de chuva era aguardada, mas não no volume registrado. A explicação está numa sobreposição de fenômenos climáticos que transformou a região central do Rio Grande do Sul num “alvo”.

Uma onda de calor estranha para o mês de maio no centro do Brasil causada por área de alta pressão funciona como uma “parede” e não deixa as frentes frias que vêm do Sul avançarem. Como houve uma sequência de frentes frias barradas, toda a água se precipitou no Rio Grande do Sul e causou chuvas por horas e horas consecutivas. Ao mesmo tempo, ventos que chegam do Norte e transportam a umidade da Amazônia pelos chamados rios voadores encontraram o mesmo alvo.

“Provavelmente, há influência ainda do El Niño que está desaparecendo agora em maio. As ondas de calor ainda estão intensificadas em função dele”, avalia Tércio Ambrizzi, pesquisador do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, USP.

Para Seluchi, nenhum lugar do mundo resistiria a uma situação destas. “Talvez deveria haver planos de contingência, planos de prevenção, que são feitos na época seca. Não se faz de uma semana para outra. Isso, sim, está faltando”, analisa.

Karina Lima, geógrafa que pesquisa tempestades severas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, ressalta que o estado está numa zona muito afetada pelo El Niño e La Niña – e que os governantes sabem disso.

“Modelos matemáticos já preveem há muito tempo que o RS continuará a tendência de aumento da precipitação média anual e da precipitação extrema, ou seja, mais chuvas concentradas e severas. Com certeza se investe muito pouco em um estado que está tão vulnerável a eventos extremos”, afirma Lima.

Para Clóvis Borges, diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), o Rio Grande do Sul perdeu há muitas décadas a resiliência para enfrentar os extremos climáticos.

“Foi o primeiro estado a cobrir todo território com propriedade agrícola. Eliminaram praticamente suas áreas naturais”, diz Borges, lembrando que restam 7% da área original de Mata Atlântica no RS e que o bioma Pampas é um dos mais ameaçados.

“Uma fração das mortes, do prejuízo econômico que se vê agora é por causa do descumprimento da legislação ambiental. Se a classe política continuar relegando isso, vamos passar por situações mais duras”, prevê Borges.

“O negacionismo precisa ser deixado de lado já que as catástrofes estão ficando cada vez mais intensas”, diz Heverton Lacerda, da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).

“Os atuais governos, tanto do estado quanto da prefeitura da capital e outras cidades do interior, estão sob comando de negacionistas climáticos. Isso fica exposto pelas políticas que eles encaminham”, declara Lacerda à DW.

Lacerda cita como exemplo um projeto de lei de autoria do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), aprovado na Câmara dos Deputados em março último. A medida autoriza o corte de vegetação nativa não florestal – como Pampa, parte do Cerrado e do Pantanal. Na prática, mais de uma área equivalente aos estados do Rio Grande do Sul e Paraná de mata nativa podem sumir do mapa se a lei passar no Senado. As informações são da emissora internacional de notícias da Alemanha Deutsche Welle.

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https://www.osul.com.br/saiba-por-que-o-rio-grande-do-sul-esta-tao-exposto-as-catastrofes/ Saiba por que o Rio Grande do Sul está tão exposto às catástrofes 2024-05-04
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