Os proprietários de bitcoins que não têm acesso à carteira falam de dias e noites intermináveis de frustração enquanto tentam obter acesso às suas fortunas. Muitos possuem as moedas desde os primeiros dias do Bitcoin, uma década atrás, quando ninguém tinha confiança de que os tokens valeriam alguma coisa.
“Ao longo dos anos, eu diria que passei centenas de horas tentando recuperar essas carteiras”, disse Brad Yasar, um empresário em Los Angeles que possui alguns computadores desktop que contêm milhares de bitcoins que ele criou, ou extraiu, durante os primeiros dias da tecnologia. Embora esses bitcoins agora valham centenas de milhões de dólares, ele perdeu suas senhas há muitos anos e colocou os discos rígidos que os continham em bolsas seladas a vácuo, fora de seu campo de visão.
“Não quero ser lembrado todos os dias de que o que tenho agora é uma fração do que poderia ter tido e perdi”, disse ele.
O dilema é um doloroso lembrete dos fundamentos tecnológicos incomuns do Bitcoin, que o diferenciam do dinheiro normal e lhe conferem algumas de suas qualidades mais alardeadas – e mais arriscadas. Com contas bancárias tradicionais e carteiras online, bancos como o Wells Fargo e outras empresas financeiras como o PayPal podem fornecer às pessoas as senhas de suas contas ou redefinir as senhas perdidas.
Mas o Bitcoin não tem empresa para fornecer ou armazenar senhas. O criador da moeda virtual, uma figura obscura conhecida como Satoshi Nakamoto, disse que a ideia central do Bitcoin era permitir que qualquer pessoa no mundo abrisse uma conta bancária digital e retivesse o dinheiro de uma forma que nenhum governo pudesse impedir ou regular.
Isso é possível pela estrutura do Bitcoin, que é governada por uma rede de computadores que concordou em seguir um software contendo todas as regras para a criptomoeda. O software inclui um algoritmo complexo que possibilita a criação de um endereço e a chave privada associada, que só é conhecida por quem criou a carteira.
O software também permite que a rede Bitcoin confirme a veracidade da senha para permitir transações, sem ver ou saber a senha. Resumindo, o sistema permite que qualquer pessoa crie uma carteira Bitcoin sem ter que se registrar em uma instituição financeira ou passar por qualquer tipo de verificação de identidade.
Isso tornou o Bitcoin popular entre os criminosos, que podem usar o dinheiro sem revelar sua identidade. Também atraiu pessoas em países como China e Venezuela, onde governos autoritários são conhecidos por invadir ou fechar contas bancárias tradicionais.
Mas a estrutura desse sistema não levou em consideração o quão ruins as pessoas podem ser para lembrar e proteger suas senhas.