Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 19 de julho de 2025
Com as medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e a resposta dos Estados Unidos na forma de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, tornaram-se mínimas as chances de negociações entre EUA e Brasil quanto às tarifas de 50% impostas por Donald Trump aos produtos brasileiros.
Essa é a avaliação do cientista político Guilherme Casarões, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenador do Observatório da Extrema Direita.
“Percebe-se que há uma intenção do governo americano de cercar ao máximo as possibilidades de negociação com o Brasil, impedindo que o governo brasileiro consiga efetivamente se livrar de alguma medida punitiva por parte dos Estados Unidos”, diz Casarões, em entrevista à BBC News Brasil. “Existe uma ‘tempestade perfeita’ nesse momento, de medidas que os americanos tomam por motivações ideológicas ou geopolíticas, que tornam a margem de negociação do governo brasileiro muito pequena.”
Para Casarões, as sanções contra Moraes, que já haviam sido sugeridas há pouco mais de um mês por Marco Rubio, representam novo caminho perseguido pela Casa Branca para atingir seus objetivos políticos, “ligados aos interesses de empresas de tecnologia norte-americanas e aos desígnios ideológicos de uma extrema direita cada vez mais transnacional”.
Laços fortalecidos
Casarões também acredita que as medidas preventivas do Supremo para evitar a fuga de Bolsonaro devem fortalecer ainda mais os laços entre trumpismo e bolsonarismo.
“Essa ideia de que Bolsonaro está sendo perseguido e injustiçado encontra eco na experiência de Trump”, diz o professor da FGV. “Com isso, se constrói uma ideia de que Bolsonaro é quase o espelho de Trump no Brasil. Isso reforça uma ligação entre eles e pode reforçar a ideia de que existe não só uma perseguição aos políticos de extrema direita ou conservadores, quanto de que haveria uma espécie de conluio transnacional para persegui-los.”
Risco de fuga
O cientista político afirma ainda que o argumento de que havia o risco, ou pelo menos havia indícios muito claros, de que Bolsonaro poderia fugir do país e buscar asilo nos Estados Unidos, não foi mera elucubração por parte do Alexandre de Moraes e da PGR.
“Isso foi dito inclusive pelo Paulo Figueiredo [ex-comentarista da Jovem Pan e foragido da Justiça por sua participação na suposta tentativa de golpe] em uma live. Ele mencionou a possibilidade aventada por uma autoridade do governo americano de que Bolsonaro fosse para os EUA em busca de asilo político”.
Acerto de Lula
O especialista avalia ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acerta ao deixar de lado a postura cautelosa com relação a Trump e colocar os ataques do americano como uma ameaça à soberania nacional. E poderá colher os frutos dessa estratégia nas eleições de 2026.
“Essa mudança de tom do presidente Lula não surpreende. Ela faz sentido nesse contexto e, se for devidamente administrada, pode, de fato, possibilitar um caminho para uma reeleição ou para eleição de um sucessor no ano que vem”, diz Casarões.
Segundo o especialista, ainda não se sabe se as sanções a Moraes e aliados vêm substituir as ameaças anteriores, que até aqui ampliaram a popularidade do governo Lula e desgastaram o bolsonarismo, ou se serão complementares a elas.
“O fato é que estamos diante de uma tentativa sem precedentes de interferência norte-americana no funcionamento da democracia brasileira”, diz ele.