Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 11 de abril de 2022
Autoridades ucranianas e serviços de inteligência do Ocidente afirmam que as forças russas estão preparando uma nova ofensiva no Leste da Ucrânia, ponto central do conflito iniciado em fevereiro e da crise político-militar vivida pelo país desde o início de 2014.
Um dos principais alvos das forças do Kremlin é Mariupol, onde o presidente Volodymyr Zelensky afirma terem morrido “dezenas de milhares de civis” no cerco russo que se prolonga há quase dois meses. Ao mesmo tempo, analistas apontam para um outro fator que pode ter influenciado a decisão de Vladimir Putin de lançar a invasão: as reservas de gás da Ucrânia, concentradas justamente no Leste do país em boa parte ainda inexploradas.
“A Rússia está preparando mais uma ofensiva, tentando quebrar nossa resistência nacional. Os ocupantes concentram dezenas de milhares de soldados e uma grande quantidade de equipamentos para tentar atacar novamente”, afirmou Zelensky, em discurso ao Parlamento sul-coreano.
Desde a decisão russa de “reduzir drasticamente” as operações contra a capital, Kiev, e contra Chernihiv, no Norte da Ucrânia, para concentrar suas ações na “liberação de Donbass”, as autoridades ucranianas expressam o temor de um ataque de grande porte contra áreas das províncias de Donetsk e Luhansk, na região conhecida como Donbass, que ainda não estão sob controle dos separatistas pró-Moscou.
Um dos “casus belli” apontados por Putin era o que ele chamava de “genocídio da população russa” na Ucrânia, com menções recorrentes aos combates entre os separatistas e as forças ucranianas desde o início da guerra civil na região, em 2014. Recorrer ao argumento da “liberação de Donbass” pode ser visto também, de acordo com analistas, como uma forma de não reconhecer que a estratégia inicial de controlar todo o país — incluindo Kiev — em questão de dias foi um fracasso.
“De um ponto de vista militar, há uma questão entre sucesso e moral, ter soldados sentados ao redor de Kiev sendo alvejados, qual a lógica disso?”, afirmou, em entrevista à CNBC, Christopher Granville, ex-diplomata britânico e pequisador na consultoria TS Lombard. “É fato que os soldados precisam ter um objetivo, o objetivo aqui é conquistar territórios, e é essa a campanha em Donbass. Os soldados podem ver por que estão lutando e ver seu progresso.
Até o momento, não se pode cravar que uma nova fase da guerra, agora em Donbass, tenha começado. Por enquanto, governos ocidentais afirmam, citando dados de inteligência, que a movimentação está voltada ao reforço e ao abastecimento das tropas no Leste, atualmente concentradas nos arredores de Izium, a cerca de 180 km de Donetsk, onde há um grande comboio militar. Também foram observadas movimentações de soldados, nesta semana, baseados na Bielorrússia, e que agora estão a caminho de Donetsk.
Nesta etapa, tomar o controle de Mariupol é central para os objetivos russos: segundo analistas militares, isso permitiria com que as forças do país se movimentassem de maneira mais livre pelo Sul ucraniano, e concentrando forças também na batalha pela cidade de Kherson, atualmente alvo de uma contra-ofensiva das forças de Kiev.
De acordo com uma análise do Instituto para o Estudo da Guerra, há apenas dois pontos de resistência dentro de Mariupol: no porto principal, no Sudoeste da cidade, e na metalúrgica Azovstal, no Leste. Para tentar vencer as forças ucranianas, os russos estão usando artilharia, ataques aéreos e, segundo o governo britânico, munições de fósforo branco, praticamente destruindo o que era, até pouco tempo, uma importante cidade portuária no Mar de Azov.
“Há dezenas de milhares de mortos, mas, apesar disso, os russos não estão interrompendo sua ofensiva”, afirmou Zelensky, se dirigindo ao Parlamento sul-coreano.
Diante do acesso praticamente nulo de serviços independentes de assistência humanitária à cidade, não é possível confirmar as alegações do governo ucraniano, mas relatos de moradores que conseguiram deixar a região trazem imagens de horror e de “corpos espalhados pelas ruas”.