Segunda-feira, 14 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 19 de março de 2022
Alemanha, Áustria, Reino Unido, China, Coreia do Sul… Foram vários os países da Europa e da Ásia que tiveram um aumento no número de casos de covid nos últimos dias.
A nova subida acontece após uma queda vertiginosa nas infecções pelo coronavírus, registrada entre o final de janeiro e o início de março, momento em que a onda provocada pela variante ômicron arrefeceu em boa parte do globo.
Esse período também foi marcado pelo fim da maioria das medidas preventivas, como o uso de máscaras em lugares fechados, especialmente nas nações europeias.
Alguns governos chegaram até a decretar o fim da pandemia e anunciaram que a covid passaria a ser encarada como uma endemia.
Mas como explicar esse repique nos casos? O alívio das restrições é suficiente para justificar a retomada das curvas? E será que o Brasil, que passa por um momento de queda nas estatísticas da pandemia, passará por uma piora daqui a algumas semanas?
Variante ômicron, versão 2.0
O aumento de casos em alguns países europeus e asiáticos acontece em um momento em que a BA.2, uma variante “prima-irmã” da ômicron (a BA.1) começa a se tornar dominante em muitos territórios.
Para ter ideia, a BA.2 apareceu em 68,6% das amostras que foram sequenciadas no Reino Unido entre os dias 27 de fevereiro e 6 de março. A ômicron “original” representou 31,1% dos casos no mesmo período.
Esse mesmo padrão de crescimento da linhagem BA.2, que substitui aos poucos a BA.1, pode ser observado em outros países, como Áustria, Coreia do Sul e Alemanha.
Há poucas semanas, a BA.1 reinava absoluta em muitos desses locais. Mas a variante perdeu a dianteira, de acordo com o Instituto Sorológico da Dinamarca, porque a BA.2 tem uma capacidade de transmissão 1,5 vez maior em comparação com a BA.1. E a BA.1 já era um dos vírus mais contagiosos que surgiram no último século.
A boa notícia é que a BA.2 não parece estar relacionada a um quadro mais grave do que o observado até agora com a BA.1.
“As análises preliminares não encontraram evidências de um risco maior de hospitalização após a infecção com a BA.2, em comparação com a BA.1”, escreve a Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido num relatório publicado no dia 11 de março de 2022.
Vale lembrar que probabilidade de sofrer complicações da covid também está relacionada à quantidade de vacinas que um indivíduo tomou ou às infecções prévias.
Ou seja: quem tem pouca ou nenhuma imunidade contra o coronavírus pode experimentar consequências muito piores do que alguém que está com as doses em dia, especialmente se considerarmos os grupos de risco (como idosos e portadores de doenças crônicas).
Outro aspecto que traz uma perspectiva otimista para esse novo aumento de casos é que ele tende a subir e cair rapidamente, a exemplo do que ocorreu com a BA.1: em países onde a BA.2 virou dominante há algumas semanas, como Dinamarca e Holanda, o registro diário de infecções já está em queda novamente.
No entanto, uma elevação de casos também pode suscitar um aumento de hospitalizações e óbitos, ainda mais nos lugares com uma grande parcela da população suscetível pela baixa cobertura vacinal ou pela ausência de ondas maiores até então.
Até o momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que “os estudos que avaliaram a taxa de reinfecção em algumas populações sugerem que a infecção com a BA.1 proporciona uma forte proteção contra a BA.2, ao menos pelo curto período em que os dados estão disponíveis”.
Liberou geral
Embora a alta transmissibilidade da BA.2 seja a principal explicação para o cenário europeu atual, existe um segundo elemento que precisa ser considerado: o fim de quase todas as medidas restritivas que marcaram os últimos dois anos.
Em alguns países, o uso de máscaras deixou de ser obrigatório em lugares abertos e fechados, não há mais políticas de testagem em massa, nem a recomendação de que pacientes infectados com o coronavírus fiquem em isolamento.
A mudança nas políticas públicas estimulou mais encontros e aglomerações, contextos onde o vírus consegue se espalhar em escala geométrica e criar novas cadeias de transmissão. E isso, junto com a maior taxa de contágio da BA.2, ajuda a explicar essa nova subida de casos em algumas partes do mundo.
Passados dois anos desde o início da pandemia, a política de “covid zero”, seguida à risca em lugares como Coreia do Sul, Vietnã, Taiwan, Austrália e Nova Zelândia, foi abandonada na maioria dos países. O único local que continua apostando nessa estratégia é a China.
Mesmo entre os pesquisadores da área, soa quase como uma utopia a ideia de eliminar completamente a covid de uma região através de medidas como o lockdown no atual contexto.