Segunda-feira, 07 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de setembro de 2022
A alta dos combustíveis, o maior preço dos carros novos e usados e o grande número de pessoas trabalhando com entregas têm impulsionado o interesse por motos. As montadoras aproveitam o aumento na demanda para ampliar a produção, dobrando turnos nas fábricas e contratando novos funcionários.
Somente em agosto, mais de 145 mil motocicletas foram fabricadas, volume 17,9% superior ao registrado no mesmo mês de 2021 e que representa o melhor resultado para o mês desde 2013.
Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), enquanto o emplacamento de motos cresceu 17,78% de janeiro a agosto, na comparação com igual período do ano passado, o de carros caiu 7,04%. Em março, o país chegou a ter mais motos emplacadas do que carros — o que nunca havia ocorrido em 30 anos.
Diante dos resultados, a Abraciclo, associação do setor, estima aumento de 10,5% na produção anual, somando 1,3 milhão de unidades.
O presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, diz que muitas pessoas passaram a usar motocicletas para fazer o deslocamento entre casa e trabalho. Ele pondera, no entanto, que o fator que mais contribuiu para a alta nas vendas de motos foi a expansão do delivery. Uma evidência é a elevada procura pelas motos de baixa cilindrada.
No mês passado, os emplacamentos de motocicletas desse perfil totalizaram 96.111 unidades, o que corresponde a 81,1% do mercado.
“Um grande número de pessoas desempregadas encontrou na motocicleta uma alternativa de renda. O comércio eletrônico, que já vinha crescendo, tomou impulso ainda maior. E até alguns trabalhadores que têm carteira assinada fazem entregas para completar a renda”, diz.
Antônio Jorge Martins, coordenador da área automotiva da FGV, diz que o aumento do custo de semicondutores tornou carros populares inacessíveis para muitos. Um veículo popular que custava R$ 50 mil antes da pandemia saltou para R$ 90 mil.
Para quem já tinha automóvel na garagem, o preço da gasolina, que chegou este ano a R$ 8 em algumas cidades, e o custo de manutenção foram determinantes.
“Além da desvalorização cambial e da inflação, os carros passaram a incorporar muita tecnologia, de câmeras de ré a sensores que freiam automaticamente quando enxergam pessoas à frente. Isso elevou preços de veículos novos, o que afetou o custo dos usados e fez com que consumidores recorressem às motos”, explica.
O motoboy Ralf Alexandre, de 43 anos, que na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, tem em casa três motocicletas: uma para trabalhar; outra da mulher; e uma terceira, comprada este ano 0km para ser usada em momentos de lazer: “Além de comprar moto ser mais fácil, o consumo de gasolina é menor. A gente enche o tanque e roda muito mais do que se usasse carro”.
A Yamaha registrou alta de 5% nas vendas em agosto na comparação com igual mês do ano passado. A empresa opera as fábricas em dois turnos e diz ter atingido recordes de produção. Ela vem elevando o total de colaboradores desde meados de 2020.
Crédito mais fácil
A concorrente Honda implementou turnos duplos de produção e contabilizou alta de 19% nos emplacamentos entre janeiro e agosto, em relação a igual período do ano passado. Os destaques foram a linha CG 160, no mercado há mais de 45 anos, e a Honda Biz, de fácil pilotagem.
Diversos bancos facilitaram o financiamento de motos. No Itaú, é possível financiar até 90% do valor, com taxas a partir de 1,54%, em até quatro anos. O Banco do Brasil tem linha de crédito destinada a motos de até 125 cilindradas, com prazo de até 60 meses e taxa de juros a partir de 1,83% ao mês. O financiamento pode ser de até 100% do valor da nota fiscal do produto, limitado a R$ 20 mil.
Já o Santander financia motos sem entrada e com planos de pagamento em até 48 meses. As taxas começam a partir de 1,35%.
Na Caixa, além do convencional, há crédito para motos elétricas, com taxas a partir de 1,59% ao mês e prazo de pagamento até 48 meses. Alexandre Kouri, diretor comercial da Multi — antiga Multilaser que agora vende motos elétricas por meio da marca Watts —, avalia que o mercado elétrico está em franca expansão, pela economia e pela sustentabilidade. Os preços das motos começam em R$ 12.999.
Em maio de 2022, o iFood anunciou o lançamento oficial da primeira moto elétrica, a EVS Work iFood. A parceria com a montadora das motos Voltz permitiu valor diferenciado aos seus entregadores: R$ 9.999,90. O iFood e o banco BV formalizaram acordo para oferecer uma linha de financiamento especial. Até o fim de 2023, a previsão da empresa é ter pelo menos dez mil motos elétricas em operação.