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Por Redação O Sul | 25 de maio de 2020
Cinco petroleiros iranianos com 1,5 milhão de litros de gasolina estão chegando, nesta segunda-feira, à Venezuela para ajudar o país latino-americano a aliviar a escassez de combustível que sofre há meses e que foi agravada por causa pandemia de Covid-19. O Fortune, o primeiro navio a entrar nas águas territoriais venezuelanas, atracou na refinaria de El Palito, na costa central, segundo informou o ministro do Petróleo do país, Tareck El Aissami. As outras embarcações se aproximam das instalações de Puerto La Cruz (na região Noroeste) e Amuay (Oeste). A operação aumentou a tensão entre esses países e Washington.
“Imagens da chegada do primeiro navio ‘Fortune’ em nossa refinaria de El Palito. Continuamos avançando e ganhando!”, escreveu El Aissami no Twitter, compartilhando imagens do navio-tanque que entrou em águas venezuelanas na noite de sábado, escoltado por navios da Força Armada Bolivariana da Venezuela (Fanb).
O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, anunciou que os navios iranianos seriam escoltados por helicópteros e aviões da Fanb até chegarem aos portos venezuelanos. O ministro das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, e outros líderes políticos e militares agradeceram o apoio às autoridades do país persa e atribuíram a conquista à “diplomacia da paz em um mundo multipolar”, que seria comandada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Tanto Cabello quanto a ministra de Assuntos Penitenciários, Iris Varela, declararam que o combustível entregue pelo Irã será usado para sustentar a revolução e que “não é adequado para os esquálidos”, em referência a seus oponentes. A Venezuela, porém, sofre há semanas de uma falta de gasolina sem precedentes que afeta milhões de pessoas. Teerã tem ajudado o país petrolífero, um de seus grandes aliados na região, em um gesto que se tornou um desafio geopolítico para os Estados Unidos. O governo de Donald Trump e a oposição venezuelana suspeitam que Maduro esteja pagando toneladas de ouro por essa ajuda.
O Irã e a Venezuela são duas nações que sofrem sanções dos EUA, um país que acusou o governo venezuelano de ser uma ponte para o desembarque de grupos terroristas na América do Sul. A aliança política entre Caracas e Teerã data dos tempos de amizade entre os então presidentes das duas nações Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad. A equipe chavista fez luto público depois que um míssil americano assassinou o líder da Guarda Revolucionária, Qasem Soleimani, em Bagdá. Um dos principais atores do governo venezuelano para obter o combustível foi o atual vice-presidente de Economia do país, El Aissami, que tem origem libanesa.
Setores radicais da oposição venezuelana tinham a esperança de que o governo Trump impedisse a passagem dos navios iranianos para sufocar politicamente Maduro, em um contexto de colapso total dos serviços públicos e da ruína econômica da Venezuela. Alguns líderes da nação sul-americana no exílio pediram a Washington que cumprisse a lei, especialmente após o anúncio do envio de um destacamento militar antidrogas por Trump à costa venezuelana há pouco mais de um mês. Isso não aconteceu. De Teerã, o presidente Hassan Rouhan havia alertado os Estados Unidos de que um ato hostil contra essa frota de petroleiros teria consequências. Vários porta-vozes da oposição dentro do país se opuseram a uma intervenção americana.
Há meses, o governo Maduro vem trabalhando com os técnicos da Petróleos da Venezuela SA (PDVSA) — a companhia estatal que já foi um dos maiores exportadores de gasolina do mundo — para reparar as refinarias El Palito e Cardón, seriamente danificadas, para que possam começar a processar combustível. O declínio acelerado da produção de petróleo venezuelano complicou a situação.
Para trabalhar na reparação das refinarias, Maduro teve assistência de técnicos iranianos que chegaram ao país em vários voos da companhia aérea Mahan Air nas últimas semanas. Embora um anúncio oficial sobre o reparo bem-sucedido de ambas tenha sido feito, ao longo do caminho surgiram novos problemas técnicos que atrasaram o início dos trabalhos.