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Por Redação O Sul | 14 de novembro de 2020
A eleição de 2020 derrubará teses que emergiram da disputa de 2018, como a prevalência do “novo” na política e o questionamento a ferramentas tradicionais da disputa, como dinheiro, arco de alianças e tempo de exposição no horário eleitoral no rádio e na TV. Das 82 candidaturas mais bem posicionadas nas pesquisas de intenção de voto nas 26 capitais, apenas 4 são de nomes que podem ser chamados de estreantes – e ainda assim parte deles é bancada por nomes da “velha política”.
Nas principais capitais do país, partidos tradicionais lideram a corrida, e estão fortalecidos os candidatos à reeleição de legendas para quem o eleitor torceu o nariz em 2018. Os candidatos do chamado “establishment” são aqueles que têm mostrado a maior força.
O DEM, por exemplo, pode levar a disputa já no primeiro turno em Florianópolis, Curitiba e Salvador. Está na liderança no Rio de Janeiro e faz parte do arco de alianças que está na frente em São Paulo. O PSD deve se sair vitorioso em Belo Horizonte já na primeira rodada da disputa, mesmo destino que pode ter o PSDB na capital potiguar.
Em Recife, o candidato do governador, do prefeito e da maioria dos vereadores é quem lidera as pesquisas. João Campos (PSB) tem como adversários Marília Arraes (PT) e o candidato do DEM, Mendonça Filho, que é ex-governador, mostrando que lá sobrenome tradicional da política está longe de ser um passivo – e Campos é filho do governador Eduardo Campos, morto em 2014, e bisneto de Miguel Arraes, que é avô da sua adversária, de quem é, portanto, primo.
Das candidaturas que podem no limite ser chamadas de “novas” estão, por exemplo, a do ex-promotor e procurador de Justiça Alfredo de Mendonça (MDB), em Maceió, que conta com o apoio do governador Renan Filho, a do radialista Nilvan Ferreira (MDB), em João Pessoa, a da Delegada Danielle (Cidadania), em Aracaju, que conta com o apoio do senador Alessandro Vieira, e a da Major Denice (PT), candidata do governador Rui Costa (PT).
Pandemia
A razão para a revalorização dos conceitos tradicionais está, em parte, no fato de essa eleição acontecer no meio de uma pandemia, em meio a um certo cansaço com a ideia do novo – ideia de certa forma desmistificada com processos de impeachment envolvendo Wilson Witzel (PSC), no Rio, e Carlos Moisés (PSL), em Santa Catarina, e com a reprovação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em algumas capitais, depois de se eleger com a ideia da antipolítica.
“A pandemia esvaziou a pauta ideológica da sociedade. Deu relevo e protagonismo aos prefeitos e na maioria dos casos terminou por alavancar a avaliação das administrações”, declarou o sociólogo Antonio Lavareda.
A crise sanitária acabou projetando prefeitos que tomaram medidas firmes em defesa do isolamento social. É o caso de Bruno Covas (PSDB), que aumenta sua intenção de voto, segundo o Datafolha, em estratos da sociedade que dão mais peso para o tema, como as mulheres e as pessoas de mais baixa renda. A mesma lógica acontece com Alexandre Khalil (PSD), em Belo Horizonte, que deve vencer a disputa em primeiro turno, segundo o Datafolha. Khalil chega a ter 7 pontos a mais de intenção de votos entre as mulheres, alcançando 66% contra 59% entre os homens.
“Numa campanha curta, com poucos debates e contato físico, a disputa também ficou mais fria que o habitual. Com tudo isso somado, aumentou a chance de reeleição e continuidade nos municípios. Ao invés de uma onda de mudanças, provavelmente teremos na maioria dos casos uma ‘eleição mantenedora’, segundo a ciência política”, afirmou Lavareda, para quem os gestores atuais devem se reeleger com um percentual mínimo igual ao de 2016, ou seja, 75% dos casos.
O eleitor também pode ter se sentido mais seguro ao apostar no “conhecido” num momento de incerteza imposto pela pandemia. Não à toa que em Manaus, por exemplo, o líder das pesquisas Amazonino Mendes (Podemos) governou a cidade pela primeira vez nos anos 1980, depois foi eleito governador 3 vezes.