Quarta-feira, 25 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 9 de junho de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A greve dos caminhoneiros já seria um sintoma suficiente para perder a fé no Brasil, tal a conspiração dos erros que dramaticamente se somaram, e que só poderiam resultar no evento monstruoso em que se transformou.
Claro, começa tudo no governo em clima de fim da linha. Não chego a reclamar, como tantos fizeram, que o governo deveria ter se antecipado aos fatos, de modo a evitar o terremoto. Trata-se de uma velha bobagem de engenheiros de obra pronta. Ninguém, antes, rigorosamente ninguém, desconfiou do perigo.
É verdade que o governo dispõe de agências de informação e inteligência. Mas governos, e ainda mais no Brasil, vivem imobilizados na letargia e incompetência que reinam soberanos em cada repartição oficial. Não dão conta do dia a dia, dos eventos recentes, quanto mais de efeitos futuros de uma ação ou omissão.
Mas e esses novos heróis nacionais, os caminhoneiros? Não se pode esperar deles nada especial. Naquele universo, prevalece o jogo bruto. Claro que não estou me referindo à totalidade da categoria. Deve ter, entre eles alguém que, digamos, goste de Mozart.
Basta transitar nas estradas para conhecer o grau de civilidade da categoria. Do alto das suas boleias, adrenalina vertendo, nós motoristas comuns, devemos ter todo o cuidado para não irritá-los: é perigoso, muito perigoso. Querem saber o caráter de um homem, deem-lhe uma parcela de poder. Na estrada, a boleia de um caminhão é uma parcela de poder.
O governo, atônito, achou que poderia resolver a parada através de concessões razoáveis – ou fartas, como foram. E tomou um tombo ainda pior do que a surpresa inicial. Pensando se tratar de cavalheiros, acreditou que havia celebrado um bom acordo para o fim da greve. Não contaram que as bases, tomadas de exaltação e valentia, rasgassem o acordo antes de ser lido.
Terá alguém dito aos cavalheiros, olho no olho, que muitos deles compraram caminhão nos tempos de bonança, sem calcular se o mercado comportava tantos novos profissionais? Que os preços do petróleo e valor do dólar, contingências ditadas de fora e sem apelação, dispararam nos últimos meses? E que para baratear o custo dos combustíveis, só com subsídios do governo, e então todos terão de pagar, mesmos os sem-caminhão?
No meio da confusão, entraram em cena canastrões e oportunistas, como esse Rodrigo Maia, personalidades erradias como Ciro Gomes, e o lulopetismo inteiro, sacando a pistola do “neoliberalismo”, arma versátil para uso em todas as ocasiões, completamente esquecidos que tudo é ainda rescaldo das estripulias de Dilma e do PT na Petrobras.
E quem vai pagar a conta da gandaia? Os de sempre. O povo que trabalha, a população indefesa, os pobres deste país.
E no entanto, mesmo os que sofreram todas as agruras do evento se declararam favoráveis ao movimento. Se uma categoria pode assim agir, botando de joelhos o governo, mantendo-nos como reféns de suas vontades, paralisando o país, então todos podem. O que de bom podemos esperar do futuro, se 86% da população, segundo pesquisas, apoia ações dessa ordem e tipo, ignorando os direitos de todos, os interesses da maioria, o bem comum?
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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