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Colunistas A mão invisível de Zuckeberg

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O lucro anunciado pelo Facebook, para o primeiro trimestre deste ano, foi superior à US$ 17 bilhões. (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O lucro anunciado pelo Facebook, para o primeiro trimestre deste ano, foi superior à US$ 17 bilhões, quase o montante que o Brasil vai gastar com todo o coronavoucher, no qual mais de 40 milhões de brasileiros de baixa renda receberão um total de R$ 1.800,00, em três parcelas mensais. Ao mesmo tempo, a O.I.T. – Organização Internacional do Trabalho, estima um risco enorme de colapso na renda para mais de 1.5 bilhão de trabalhadores informais em todo o mundo, devido à pandemia da Covid-19.

O brutal contraste entre o lucro trimestral de uma única empresa e a indigência a que estão submetidas bilhões de pessoas no mundo, pode ser a gota d’água para uma mutação de grandes proporções no próprio modelo capitalista. O grau insano de concentração de riqueza gerado pelo hipercapitalismo provoca não apenas indignação moral, mas simultaneamente coloca em xeque os atuais fundamentos das leis de mercado que permitiram ao mundo chegar à atual situação.

Estimulado por uma economia cada vez mais integrada, tecnológica e complexa, o capitalismo também teve na queda do Muro de Berlim, ocorrida em 1989, junto com o colapso socialista, um forte impulso para uma concentração de riqueza sem precedentes. Livre da contenção ideológica dos seus pressupostos, o terreno estava livre para uma corrida sem freios por parte do modelo capitalista. Estima-se que hoje, os 26 homens e mulheres mais ricos do mundo, detenham cerca de 50% da riqueza de metade da população mundial.

Isso não é apenas chocante do ponto de vista moral, mas trata-se de uma disfunção do capitalismo que pode comprometer seu próprio destino. A transformação, contudo, já estava sendo gestada e deve irromper agora com o abalo sísmico provocado pela pandemia da Covid-19 na economia mundial. As mudanças, a meu ver, ocorrerão muito mais por um imperativo de sobrevivência do atual modelo, do que propriamente por maior consciência humanitária. Os homens continuam iguais, e justamente por isso, farão os ajustes necessários. Nesse sentido, o jovem Mark Zuckerberg, co-fundador do Facebook em 2004, com a eloquência fenomenal do seu sucesso, pode estar provocando um freio àquilo que Adam Smith não foi capaz de imaginar, quando intuiu de forma genial, como sendo uma “mão invisível” a governar a lei da oferta e da procura na economia moderna.

Com a riqueza cada vez mais concentrada, os desempregados e excluídos, não somente deixam de consumir, como pressionam os serviços sociais dos países, influenciando diretamente em maior instabilidade política. Estrategicamente, então, faz sentido para os donos do capital, fomentar mercados mais equilibrados e com níveis crescentes de consumo. Dessa forma, não será de estranhar a convergência antes improvável de dois fenômenos complementares que deverão ganhar força a partir dessa mutação do capitalismo que veremos brotar a partir da atual pandemia e que irá remodelar a forma vista hoje de acumulação de capital.

De um lado, empresários mais permeáveis a mudanças no escopo e missão de suas organizações, terão que ir muito além das atuais ações solidárias que promovem, dando apoio e recursos para compromissos mais sustentáveis no relacionamento com seus empregados, sociedade e demais públicos impactados. Na outra ponta, governos serão pressionados a desenvolver políticas fiscais e tributárias mais restritivas ao processo de concentração de riqueza, com os cuidados necessários para manter o “espírito animal” vivo, e sem afrontar os preceitos que tão diligentemente Adam Smith descortinou, e cujas crenças Mark Zuckerberg levou tão a sério.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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