Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 22 de dezembro de 2020
Os americanos ricos estão correndo para fechar grandes transações antes do fim do mês, na tentativa de se antecipar a quaisquer medidas que o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, e os democratas no Congresso adotem no ano que vem para aumentar impostos ou fechar deduções tributárias.
Consultores dizem que estão mais atarefados do que nunca nestas últimas semanas do ano, especialmente em ajudar clientes a transferir sua riqueza para filhos sem pagar impostos, enquanto ainda podem. Avaliadores, essenciais para calcular o valor dos ativos usados nessas estratégias de planejamento sucessório, estão inundados de trabalho.
Os pedidos de avaliações de imóveis quadruplicaram na empresa Miller Samuel, de Nova York, segundo seu presidente, Jonathan Miller. No fim de novembro, ele teve de começar a recusar clientes. “Não temos, fisicamente, como lidar com todos os prazos de fim de ano neste momento”, disse.
O frenesi de fim de ano é uma surpresa para muitos consultores, pois os republicanos se saíram melhor do que muitos esperavam nas eleições para o Congresso. Isso sugere que Biden pode ter dificuldade para cumprir a promessa de arrecadar trilhões de dólares em novas receitas taxando os mais ricos.
Duas disputas de segundo turno na Geórgia, em 5 de janeiro, ainda dão aos democratas a chance de conquistar 50 cadeiras no Senado, o que lhes garantiria o controle da Casa, pois a vice-presidente, Kamala Harris, teria o voto de desempate no plenário. Ainda que os democratas vençam as disputas na Geórgia, “será difícil para o presidente eleito conseguir que uma reforma tributária significativa de fato seja aprovada com um Senado dividido”, disse Benjamin Berger, sócio da escritório de contabilidade RSM.
Apesar disso, alterações fiscais ainda serão possíveis em 2021, e o governo Biden também pode tentar fechar as muitas brechas que permitem evitar os impostos sobre herança e doações nos Estados Unidos. “Imagino uma situação em que o Tesouro promulgue regras que tornem mais difícil fazer um planejamento de espólio eficaz”, disse Berger.
A lei tributária de 2017, aprovada pelos republicanos e sancionada pelo presidente Donald Trump, dobrou o valor que os ricos podem repassar a seus herdeiros sem pagar o imposto sobre heranças e doações – este ano o limite é de US$ 11,58 milhões para indivíduos e US$ 23,16 milhões para casais. Mesmo antes da eleição “muitos clientes já tinham começado a pensar em estratégias de doações”, disse Lisa Featherngill, chefe de planejamento de patrimônio e herança da Abbot Downing, uma unidade da Wells Fargo, de San Francisco.
“O que dizemos a eles é que não tirem o pé do acelerador.” A principal razão para que os contribuintes ricos tomem providências até 31 de dezembro é o risco de que as mudanças fiscais sob Biden sejam retroativas ao início de 2021. Muitos consultores têm dito a clientes que isso parece menos provável agora, e os aumentos de impostos só devem chegar em 2022, se é que vão acontecer. Ainda assim, Laura Zwicker, presidente do grupo de serviços ao cliente privado do escritório de advocacia Greenberg Glusker, de Los Angeles, disse que está mais ocupada “do que nunca”, e um número surpreendente de novos clientes chegaram nas semanas seguintes à eleição.
“Os clientes querem tirar proveito da lei atual”, disse. Depois de um 2020 louco, que enfatizou como “vivemos em tempos incertos”, os clientes estão com “excesso de prudência”, disse Susan Hartley-Moss, sócia da Cerity Partners, que chefia a divisão de planejamento sucessório e trust. “Um consultor experiente aconselharia: ‘Ei, vamos evitar correr riscos. Vamos usar o que resta do seu limite de US$ 11,58 milhões’.” Biden também propôs elevar o imposto de renda para os ricos, o que incluiria alíquotas maiores sobre ganhos de capital.
Consultores dizem que isso levou clientes a tentarem vender empresas ou investimentos em 2020, a taxas que provavelmente não cairão, mas podem subir nos próximos anos. Alguns milionários também podem enfrentar impostos estaduais e locais maiores em 2021, pois os Estados terão déficits públicos graves.