Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2021
Em um cenário de crise econômica, com avanço da pobreza e da fome, o presidente Jair Bolsonaro procura, por meio de medidas que atingem a população de baixa renda, substituir o discurso antipolítica e de combate à corrupção, preponderante na campanha eleitoral de 2018, pela marca de responsável pela ampliação de programas sociais às vésperas da eleição de 2022.
A nova roupagem, presente na cerimônia de filiação de Bolsonaro ao PL há duas semanas — na qual o presidente foi apresentado como criador do “maior programa social do mundo” —, é defendida por seu filho mais velho e um dos principais estrategistas de sua campanha, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), como uma tentativa de minar a popularidade do ex-presidente Lula (PT) nas camadas mais pobres.
O petista, que beira 60% de intenções de voto nesses segmentos, tem como estratégia eleitoral a “memória” de programas sociais de seu governo.
Além do Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família neste mês com um benefício mínimo de R$ 400, e que pode totalizar um gasto de R$ 90 bilhões em 2022, Bolsonaro tem acenado com outras medidas para famílias inscritas no Cadastro Único, porta de acesso a benefícios sociais do governo.
O cadastro se destina principalmente a famílias com renda per capita mensal de até meio salário mínimo, faixa que engloba cerca de 63 milhões de pessoas, segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE.
Este universo, que corresponde a 30% da população, é considerado por especialistas como decisivo para a eleição presidencial, e tem questões econômicas, a exemplo da inflação e do desemprego, como principal preocupação no momento, segundo pesquisas.
“Obviamente há um pano de fundo de desconstruir mais uma mentira do PT, de que quem é de direita ou conservador ignora a população mais pobre. Os conservadores defendem que o Estado esteja presente nos lugares que forem necessários”, afirmou Flávio Bolsonaro.
Na avaliação do senador, o PT vai recorrer aos auxílios concedidos durante os governos petistas para atrair o eleitorado: “Essa é uma linha que eles usaram em 2018 e certamente vai estar forte também na campanha em 2022.”
Dados da PNAD Contínua, referentes ao ano passado, apontam um empobrecimento da população empurrando mais pessoas para situações de pobreza e extrema pobreza. O rendimento médio mensal per capita foi de R$ 1,3 mil, 4% a menos do que em 2019.
Miséria
Segundo o IBGE, a renda média no Norte e Nordeste é inferior ao salário mínimo, de R$ 1.100. De acordo com números de setembro do Cadastro Único, 15 milhões de famílias têm renda per capita de até R$ 89, a linha de extrema pobreza, e outras 2,9 milhões ficam na linha de pobreza, até R$ 178 mensais. Este é o contingente contemplado pelo Auxílio Brasil.
Na tentativa de atingir de forma mais ampla o eleitorado mais pobre, preocupação compartilhada por Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB), Bolsonaro também regulamentou um vale-gás para famílias com renda per capita de até meio salário mínimo, e que deve custar R$ 1,9 bilhão em 2022.
E editou uma Medida Provisória flexibilizando as regras do Programa Universidade Para Todos (ProUni), de custeio de mensalidades, liberando a participação de alunos de baixa renda de escolas privadas que não tiveram bolsa, desde que a renda familiar mensal seja de até três salários mínimos.
“Em função da grande desigualdade social do Brasil, se percebeu que essas políticas de transferência de renda geravam retornos eleitorais. Em 2002, o perfil do eleitor de Lula era de pessoas brancas, com alta escolaridade e que moravam no Sudeste”, afirma o cientista político Carlos Pereira, da FGV, ressaltando que o petista inverteu o perfil de seu eleitorado em 2006, quando se reelegeu.
Para não perder a conexão com a parcela mais pobre do eleitorado, Lula deve enfatizar, na campanha, que o Brasil voltou ao mapa da fome no governo Bolsonaro e lembrar programas sociais de sua gestão, principalmente o Bolsa Família. Ele também tem citado o desemprego e a inflação que afetam mais a parcela pobre da população.