Sexta-feira, 18 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 3 de julho de 2025
O Banco Central (BC) está trabalhando numa proposta de reforma da poupança com o objetivo de ampliar a oferta de recursos para o crédito imobiliário, conforme apurou o Estadão/Broadcast.
As medidas em estudo incluem uma revisão do porcentual dos depósitos da poupança destinados ao setor, mas devem ir além, em direção a buscar novas fontes de captação no mercado, no que vem sendo chamado pelo regulador de um novo modelo de financiamento. Não estão previstas mudanças no modelo de remuneração da poupança, segundo as fontes. Procurado, o Banco Central não comentou.
A expectativa é que um novo modelo seja apresentado publicamente ainda neste mês ou, no mais tardar, em agosto. Alterações no segmento dependeriam de aval do Conselho Monetário Nacional (CMN), cuja próxima reunião ordinária está marcada para o dia 24.
As regras vigentes determinam que 65% dos depósitos da poupança sejam destinados aos financiamentos imobiliários, enquanto 20% são guardados como colchão de liquidez na forma de depósitos compulsórios, e 15% podem ser usados livremente pelos bancos.
Fontes que participam das discussões disseram, reservadamente, que o BC visa aumentar o direcionamento dos novos depósitos para o crédito imobiliário e reduzir o compulsório, liberando mais dinheiro para uso obrigatório no setor habitacional.
No compulsório há discussões não só sobre mudar o porcentual que fica depositado no BC, mas também alterar a forma de cálculo, de acordo com uma fonte.
Como forma de estimular os negócios, foi sugerido que, a cada um real que o banco destine ao crédito imobiliário, ele fica autorizado a tomar o mesmo valor da poupança para uso de forma livre, como em outras linhas de empréstimos mais rentáveis.
A expectativa é que as taxas praticadas no mercado caiam com o aumento da oferta de recursos e melhora no mix de produtos.
A prioridade do Banco Central é abastecer os financiamentos destinados à compra da casa própria, enquanto os financiamentos para a construção devem ser cada vez mais empurrados para o mercado de capitais.
Com a escassez dos recursos da poupança, os bancos foram parando de dar crédito a construtoras e incorporadoras, preferindo direcionar os recursos para as pessoas físicas. Por isso, há urgência em encontrar uma solução de recursos, comenta o diretor de um banco.
Fundos imobiliários, que seriam uma alternativa, estão travados por conta do juros de 15%, o que também torna mais caros instrumentos como a Letra de Crédito Imobiliários (LCI) e o Certificado de Crédito Imobiliário (CRI).
A agenda de reformas está sendo trabalhada pelo Banco Central junto com os ministérios da Fazenda e das Cidades, em reuniões com representantes de bancos e incorporadoras.
O pano de fundo dessa discussão é a perda de recursos da poupança nos últimos anos, com mais saques do que depósitos.
Paralelamente, as vendas de imóveis vêm crescendo e demandando mais financiamentos. Isso levou incorporadoras, bancos e governo e se debruçarem no estudo de alternativas que gerem novos recursos para o setor.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, vem repetindo que a redução no saldo da modalidade tem caráter estrutural, e afirmou que as soluções encontradas devem ser apresentadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A gente está fazendo esse debate também com essa visão estrutural, é um tema que eu acho que vem ficando cada vez mais claro, que a gente precisa migrar para um modelo de funding [financiamento] que dependa menos da poupança”, disse Galípolo na quinta-feira da semana passada, 26, durante entrevista coletiva.
Segundo uma pessoa com conhecimento das discussões, as soluções estudadas visam uma mudança estrutural no modelo, e não um impulso de curto prazo.
Um eventual aumento no porcentual dos depósitos em poupança destinado ao crédito imobiliário serviria para promover uma transição gradual ao novo formato de financiamento, que deve envolver um conjunto de fontes de recursos.
Diante da expansão do mercado, os bancos já têm usado mais que 65% dos depósitos para atender a demanda de financiamentos. A saída encontrada pelas instituições foi complementar a captação de recursos por meio da oferta de LCIs.
Isso tem garantido a oferta de crédito, mas o problema é que os juros são bem mais altos e acabam inviabilizando muitos negócios. As LCIs geralmente têm um custo atrelado à Selic.
Já a poupança tem custo de 8% ao ano, o que faz dela, historicamente, a principal fonte de dinheiro para abastecer os financiamentos.
A revisão da estrutura da poupança integra um conjunto de medidas em análise pelo Banco Central com o intuito de garantir mais recursos para financiar a compra e a construção da casa própria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.