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Por Redação O Sul | 26 de abril de 2020
Um fenômeno tem intrigado os médicos americanos no combate ao novo coronavírus. Nas últimas semanas, pacientes jovens e de meia-idade que testaram positivo para a Covid-19 – ou seja, fora do grupo de risco – foram internados após terem sido vítimas de AVC (acidente vascular cerebral). Alguns morreram. Agora, a ligação entre a doença e o AVC virou alvo de estudos.
Segundo o jornal The Washington Post, três grandes centros médicos dos Estados Unidos estão se preparando para publicar dados sobre este fenômeno.
O número de pessoas afetadas ainda é pequeno dentro do universo de quase 2,7 milhões de contaminados pelo Sars-CoV-2 ao redor do mundo. Mas joga luz para um novo conhecimento da comunidade médica sobre o tema.
Um dos artigos está sendo elaborado por profissionais dos hospitais da Universidade Thomas Jefferson, responsável por 14 centros médicos na Filadélfia, e da NYU Langone Health, de Nova York. Eles descobriram que 12 pacientes que trataram de coágulos surgidos no cérebro testaram positivo para o novo coronavírus. Destes, 40% tinham menos de 50 anos. Além disso, tinham pouca ou nenhuma comorbidade.
Neste momento, o artigo passa pela revisão de uma revista médica. Eytan Raz, professor-assistente de neurorradiologia da NYU Langone e um dos autores do estudo, admite ao Post que o cenário o deixou surpreso.
“Quando se trata de oclusões dos grandes vasos, estamos acostumados a considerar como jovem um paciente de 60 anos (a idade média das vítimas é de 74 anos). Nunca vimos ocorrer com tantos na casa dos 50, 40 e 30 anos”, afirma o professor, que especula se a causa de tantos derrames entre os mais jovens não está no fato de eles serem mais resistentes às dificuldades respiratórias causadas pelo coronavírus.
“Eles sobrevivem dos problemas pulmonares, e com o tempo desenvolvem outros sintomas.”
As preocupações em torno deste assunto surgiram quando foi constatado que, durante o pico das infecções por Covid-19, o Corpo de Bombeiros de Nova York estava recolhendo mortos em casa quatro vezes mais do que o normal. Alguns deles sofreram derrames súbitos.
Os primeiros relatos de pessoas mais jovens com Covid-19 que sofreram AVC vieram de Wuhan, província chinesa considerada o berço da pandemia. Mas, segundo Sherry HY Chou, neurologista da Universidade de Pittsburg, na ocasião a associação foi considerada mais um palpite clínico.
Ela se pergunta se a coagulação não pode ser provocada por uma reação do sistema imunológico.
“Na tentativa do corpo de combater o vírus, a resposta não acaba prejudicando seu cérebro?”, questionou a médica, que espera chegar a uma resposta através da análise de derrames e outras complicações neurológicas em milhares de pacientes com Covid-19 atendidos em 68 centros médicos de 17 países.
Outro trabalho perto de ser publicado vem da equipe do Mount Sinai, o maior sistema médico de Nova York. O médico e pesquisador J. Mocco relata ao Post que o número de pessoas com grandes bloqueios na corrente sanguínea do cérebro dobrou durante as três semanas do pico de Covid-19.
Com um detalhe agravante: os pacientes com AVC que testaram positivo para o coronavírus eram, em média, 15 anos mais jovens do que aqueles com AVC sem o vírus.
“Essas são as pessoas com menor probabilidade estatisticamente de sofrer um derrame”, afirma Mocco. “Este é um sinal muito poderoso para ser considerado um acaso.” As informações são do jornal O Globo.